Chegou tarde demais, sem humildade e não convenceu. O sentimento geral entre senadores que vão votar para tirar em definitivo a presidente Dilma Rousseff (PT) do poder é o de que a carta divulgada por ela ontem não surtiu efeito. Já são cerca de 60, de 81 parlamentares, que dizem ser favoráveis ao impedimento de Dilma.
Na tarde de ontem ela leu a carta que será entregue hoje aos senadores. Foram mais de 30 dias negociando com petistas e com outros aliados o tom do documento. Alguns, como o ex-presidente Lula (PT), acreditam que a carta deveria ter sido redigida e divulgada antes. Ficou para a reta final do processo. E não fez jus ao dito popular: “antes tarde que nunca”.
Dilma disse que não pedalou e que, caso se confirme o que o meio político dá como certo, ela terá sofrido um golpe. Também se comprometeu a convocar um plebiscito. Se tivesse proposto novas eleições quando o processo ainda estava em andamento na Câmara, talvez tivesse tido o apoio parlamentar.
Há cerca de 40 dias deputados e senadores estavam ansiosos pela proposta. Nos corredores dos gabinetes, o comprometimento poderia ter mantido a afilhada de Lula no poder até a convocação de novo pleito. Ninguém confiava plenamente em um governo Temer e todos queriam uma nova oportunidade nas urnas.
Mas a petista não quis dar o braço a torcer. Contou com um capital político que nunca teve. E a esperança depositada pelo mercado no novo governo jogou por terra qualquer nova chance de retorno de Dilma. O tempo foi implacável. O reconhecimento do erro virou piada. O maior erro foi deixar passar, não agir rápido, não dar o tiro certeiro. Agora, a convocação de novas eleições caiu no descrédito daqueles que não querem enfrentar o PMDB no poder.
Com isso, os rumos do Brasil estão praticamente acertados. Se não tiver mais nenhuma carta na manga, Dilma pode considerar-se carta fora do baralho. <EM>
De olho no cargo
A recriação do Ministério do Desenvolvimento Agrário já levanta o interesse de partidos em Brasília. O mineiro Zé Silva, filiado ao Solidariedade e aliado do senador Aécio Neves (PSDB), deve ser indicado ao cargo.
Ontem, ele visitou o ministro Eliseu Padilha (PMDB), principal articulador do governo de Michel Temer (PMDB). Silva teria levado as reivindicações da futura pasta. A indicação cairá na conta do Solidariedade.
Banho maria
A campanha eleitoral deste ano começou lenta, sem muito dinheiro, mas com boas estratégias. Alguns candidatos optaram pelo início popular, na periferia, ou tratar de temas relativos à saúde. Pode ser um bom começo em uma campanha menor, com novas regras eleitorais. Chamou a atenção a ausência de lideranças no primeiro dia. Délio Malheiros (PSD) não levou o prefeito Marcio Lacerda (PSB) e João Leite (PSDB) não trouxe os senadores Aécio Neves (PSDB) e Antônio Anastasia (PSDB).
E agora?
O possível envolvimento do Vox Populi, instituto de pesquisas, na operação Acrônimo deixou candidatos com cabelo em pé. A empresa tem no currículo várias campanhas eleitorais no interior e é cobiçada por postulantes.</CW>