Como se viu, a presidente Dilma Rousseff (PT) recuou da estratégia inicial de denunciar o processo de impeachment, ou o golpe, à comunidade internacional, durante pronunciamento no plenário da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta sexta (22). O tom ameno apresentado não impediu breve referência ao caso e atendeu à estratégia do governo para não queimar etapas nem se indispor com o Judiciário brasileiro, que, acreditam aliados, poderá arbitrar sobre o impeachment em caso de derrota no Senado Federal.
Embora tenha frustrado setores da militância, a medida foi cautelosa para não atropelar o Senado, instância final do impeachment, e o Supremo Tribunal Federal, instância recursal. Ainda que a tendência, no Senado, seja pelo impedimento dela e, no STF, de não entrar no mérito da denúncia, Dilma não poderia radicalizar na denúncia de que é “golpe”, uma vez que ainda não foi condenada, e o julgamento sequer começou. Soaria como se estivesse jogando a tolha: acredita que será impedida e, por consequência, não acredita na independência e capacidade institucionais do Senado e de seus senadores.
Até agora, após esfriar a cabeça, o que temos foi uma votação, dentro daquele triste espetáculo que todo mundo viu, da aceitação e abertura do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados. O julgamento do impeachment, propriamente dito, será feito pelo Senado, que dá a palavra final, claro, se no próximo mês, aprovar a abertura do processo.
Muito provavelmente, o clima de luta adotado por Dilma, Lula e petistas, o “não vai ter golpe”, tem criado dificuldades para a adoção de estratégias de reversão da iminente derrota. De todos, apenas o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, sustentou posição de defesa jurídica e até política. Ninguém mais vê ou ouve notícias de que o ex-presidente Lula, articulador político informal do governo, teria se reunido com essa ou aquela liderança, ou partido, para defender o mandato de Dilma ou contestar as razões pontuais e conjunturais que o estão encurtando. Nem ele, muito menos aqueles que estão investidos oficialmente da missão, como Ricardo Berzoini e Jaques Wagner (alguém aí sabe qual é o cargo deles?).
Ao contrário de Dilma, o vice-presidente Michel Temer não faz outra coisa além de articular perante esses partidos e lideranças a derrota dela, com viés de montagem de eventual governo. As notícias dão conta que Temer já teria pacificado seu partido, tradicionalmente rachado, e atraído outros que estavam até uma semana atrás, na base do atual governo, como o PP, PSD, PTB, além, óbvio, da oposição. Ou seja, ele também, como Dilma, acredita no destino dela e, por isso, atua para o desafio seguinte.
Opostas, ambas as situações antecipam e preveem que a proposta de pacificação política nacional, defendida, na quinta-feira (21), em Ouro Preto, pelo governador Fernando Pimentel, durante as comemorações dos 224 anos da Inconfidência Mineira, não terá espaço. A turbulência política está longe de acabar e prosseguirá durante e após o julgamento no Senado, com impedimento ou sem ele. Imaginem, então, quando Temer assumir e anunciar medidas antipopulares, que exigem, um mínimo de liderança e legitimidade? Como será? Haverá luta, sim, muita luta, como anteviu a presidente Dilma e seus aliados.