Diretor-criativo do Minas Trend propõe discussões para além da moda

Flávia Ivo
21/10/2019 às 05:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:19
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Há três décadas, o estilista Rogério Lima está inserido no mercado mineiro de moda. Neste ano, assumiu a direção criativa do Minas Trend (MW), o maior salão de negócios do setor na América Latina, realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), contando com mais de 200 expositores.

O evento, que lança tendências para as próximas estações, e acontece nesta semana, desta terça-feira (22) até sexta (25), chega à sua 25ª edição, com o objetivo de trazer discussões sobre o futuro do segmento, e acerca da importância de ações sustentáveis em uma das maiores indústrias que empregam no Brasil.

Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Rogério contou as novidades desta edição do Minas Trend, e apresentou as visões do planejamento para os próximos eventos.

 Começa mais uma edição do evento e você entra agora como diretor criativo, mas já estava inserido na organização das últimas temporadas. Como foi essa mudança?
É um desafio muito grande, mas um prazer enorme ser parte do Minas Trend. Desde a primeira edição estou no evento. Muitas das vezes com a minha marca inserida no salão de negócios, outras como presidente de sindicato, o que eu acho que me levou a ficar mais próximo do MW, porque o envolvimento é muito grande. A vontade de fazer um evento cada vez melhor passa a ser uma prioridade, em função do número considerável de empresas no seu entorno precisando vender. A expectativa com o MW é sempre alta porque o evento gera muitas vendas. Costumo falar que dois por ano é pouco, eu queria quatro. Em termos de business, para quem é industrial, é fundamental. 

E isso é possível?
A meta é termos mais eventos, uma expansão. Diversificar em termos de região, levando a marca Minas Trend para outras parte do Brasil, para sermos mais competitivos. Mas temos um propósito maior ainda que é o de tornar o MW sustentável financeiramente. Desde que o Flávio (Roscoe) assumiu (a presidência da Fiemg), a gente está com esse desafio de abrir para o público final. Então, nas duas primeiras edições realizadas na gestão dele, fiquei muito focado em tentar montar esse esqueleto, uma programação mais participativa e democrática para este consumidor final que é ávido por moda. Mas eu acredito, também, que a moda venda tudo. Por isso, por que não trazer outros tipos de entretenimento e de patrocinadores? O objetivo dessa nova plataforma é gerar oportunidades de conteúdo de negócios, e de debates. E o tema desta temporada veio muito a calhar.

O tema é “Tecendo Futuros”. Qual é a ideia?
Eu pensei na história de tecer o futuro, principalmente porque vamos apresentar nesta edição os ODSs (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da ONU, que tem um pacto global de chegarmos a 2030 com um mundo melhor. Grandes empresas que têm informação e uma certa estrutura já vêm implementando isso. Quanto mais proposições e discussões abertas e democráticas tivermos, melhor. Têm me perguntado se não é tecendo o futuro da moda. Eu respondo que não, é tecer o nosso futuro. Quais são as ações que a gente vai discutir no presente para chegarmos a um futuro sustentável? Proponho gerar um tema, a cada edição, que traga um dos segmentos da indústria. É uma oportunidade de mostrar à sociedade o real papel da Fiemg, e quão valiosas são essas indústrias para a cadeia produtiva. Nesta, nós escolhemos o têxtil, mas virão outros segmentos. Em cada um deles, poderemos trazer elementos que gerem polêmica. Porque a moda é um universo bacana de discussão. É óbvio que sempre haverá críticas, mas é por meio delas que conseguimos mudar.

E onde o algodão entra nessa história? 
Como é a primeira edição em que iremos começar a falar dos segmentos industriais, nada melhor do que a nossa segunda pele, que são os tecidos, as roupas. O movimento do algodão no Brasil já tem tido uma adesão muito grande por parte das empresas. O produto já foi o ouro branco da nossa economia, mas, ao mesmo tempo, tinha a parte que todo mundo considerava meio que escrava, menos inclusiva, vou dizer.

E hoje?
O Brasil vem, ao longo desses anos, investindo muito em tecnologia. Já tem algodão no Brasil praticamente todo sustentável. Até mesmo sobre a questão dos agrotóxicos. Por exemplo, hoje, você ataca só os focos, os drones estão muito presentes nas plantações. Eles identificam o foco da praga e combatem, não tem mais tanto pesticida. Só que acho que essas informações não chegam no consumidor. A gente precisa mostrar a importância dessas commodities, de uma indústria de alta produtividade. A história de “Tecendo Futuros” foi essa. Quando é que iremos parar para pensar em tudo o que temos visto de críticas da sociedade, às vezes até mesmo por falta de informação, e tornar o mundo melhor? Nisso, entra a inclusão social, a diversidade, não só na passarela. Por que eu não tenho um stylist negro, ou um na maquiagem? Cada um precisa fazer parte, buscando uma moda mais responsável.Lucas Prates

Rogério Lima: "Proponho gerar um tema, a cada edição, que traga um dos segmentos da indústria. É uma oportunidade de mostrar à sociedade o real papel da Fiemg, e quão valiosas são essas indústrias para a cadeia produtiva"

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Além dessa apresentação da indústria do algodão, há outras ações preparadas?
Estamos tentando novas possibilidades de mercado para estarem inseridas no Minas Trend. E por que não fazer uma feira de tecidos dentro do evento? Assim, começaremos a mostrar para as empresas o que teremos lá na frente. Colocaremos mais segmentos que compõem a cadeia para que aumentar o olhar para o Minas Trend, onde são lançadas oportunidades e não só moda. Provavelmente conseguiremos fazer isso em abril (na próxima edição). Nesta edição agora, estaremos em seis empresas que ajudaram nessa nossa proposta e que necessitam da demanda. O setor tem necessidade de uma feira de alto nível.

E para o grande público, o que está previsto?
A gente queria muito mais. Quando trouxemos o algodão, a ideia era trazer o pessoal dessa área para palestras, mas as agendas não bateram, tivemos uma dificuldade. Mas teremos muitas palestras, shows, dança, além dos desfiles e do espaço gastronômico. Alguns patrocinadores estarão fazendo ativações, como uma exposição da AngloGold com a coletânea de tudo o que já fizeram. Uma oficina com as meninas da Ecomaterioteca, que também falam de tecidos sustentáveis, e têm um trabalho de cadastramento deles. Basta conferir a programação e se inscrever no Sympla.

E em relação ao line-up de desfiles, que parece estar reduzido. Houve dificuldade em fechar?
Está todo mundo muito contido ainda em relação à economia. Em outras épocas, tínhamos uma contrapartida maior da Fiemg, então era mais fácil desfilar em função da ajuda. Mas como tudo tem que ser equalizado e as contas têm que bater, obviamente dificulta um pouco para quem quer desfilar. A gente precisa fazer uma definição de um line-up melhor, criar uma bilheteria porque o público é ávido por isso e ela ajudaria na sustentabilidade do evento. Mas nosso foco primeiro é fazer este salão de negócios sustentável, e estamos muito próximos. Lá atrás, quando não tínhamos abertura para o público, não conseguíamos patrocínio, porque as empresas patrocinam onde tem gente. Ainda temos uma deficiência que é a programação divulgada muito próxima ao evento. Estamos montando estratégias para que possamos fechar ativações, palestras e shows bem antes para abrir uma agenda de bilheteria. Nem tudo sai como a gente idealiza no começo, estamos em um processo de construção.

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