Dívida de agricultores é recorde

Jornal O Norte
11/12/2006 às 09:58.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:46

O peso do endividamento da agricultura dentro do PIB - Produto interno bruto setorial aumentou fortemente desde o início dessa década. As dívidas, que equivaliam a 37% do PIB do setor em 2000 devem ficar perto de 60% este ano. A estimativa é de levantamento do Ipea-Instituto de pesquisa econômica Aplicada, que analisa o problema e propõe alternativas, como limitação constitucional expressa ao financiamento em excesso ao agricultor.

A avaliação é que a situação do setor ficará de fato mais favorável a partir deste ano, por conta de alguma recuperação nos preços e da redução de custos. Mas o peso da dívida sacrifica e impede que o setor retome maiores expansões.

- Alguns fatores vão trazer melhoria conjuntural, mas isso não vai ser suficiente para permitir que o setor volte a crescer como vinha crescendo, diz o pesquisador do Ipea Gervásio Rezende, que participou do trabalho.

Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva previu -sinal extraordinário-, para o setor. O trabalho destaca, contudo o sério problema que representa o endividamento recorde. Os produtores chegaram à época das vacas magras com as dívidas contraídas na bonança, explica Rezende.

Na prática, apesar da boa intenção, a postergação do pagamento das dívidas do setor pelo governo deixa o setor ainda mais endividado. Até o fim do primeiro semestre, as dívidas equivaliam a 54,8% do PIB do setor, taxa que subirá ainda mais até o fim do ano, estima o especialista.

Nunca aconteceu isso na história do setor, diz o pesquisador. Ele diz que é realmente necessária uma renegociação dessa dívida, mas destaca que é preciso definir um dispositivo constitucional para evitar que o governo repita a generosidade de ficar emprestando em excesso ao produtor.

- Não adianta renegociar, se você não restringir futuramente para a coisa não se repetir - ressalta.

A proposta, de maneira simplificada, é partir para uma negociação que alongue prazos de pagamento, mas inclua uma redução nos juros e um rebate do principal, ou seja, uma absorção pelo governo de parte dos valores. O problema, destaca ele, é que na época de prosperidade, houve estímulos demais ao endividamento setorial, quando, ao contrário, o ideal seria uma espécie de política anticíclica.

Assim, quando o setor está na fase de vacas gordas ele deveria ir ao mercado para captar recursos. Não precisaria do governo dando crédito. Ao contrário, no período de crise, o financiamento federal seria relativamente maior. Com dívidas em alta, o setor acaba enfrentado o período de crise atolado no endividamento e sem caixa para enfrentar o problema, aí, desmoraliza - diz.

CENÁRIO

Do ponto de vista conjuntural, o cenário dá indicações de melhoria a partir deste ano. Produtos como soja, milho e trigo experimentaram melhora de preços, o que ajuda na rentabilidade do produtor. Em paralelo, custos de insumos caíram, o que também é benéfico. Exemplo disso é a queda da cotação do petróleo, o que gera redução nos custos de produtos como fertilizantes e defensivos químicos para a agricultura.

Rezende cita, por exemplo, que os preços do milho melhoraram e tornaram as exportações mais rentáveis.

- Isso vai ter um efeito positivo sobre a próxima safra. No caso do trigo, também haverá aumento da área plantada - estima o pesquisador. (Com informações boletim)

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