O que derrubará o presidente Michel Temer, assim como aconteceu com Dilma Rousseff, será a economia. Logicamente que o desgaste no Congresso, o desmonte das políticas sociais e o descaramento com que vem sendo tocada a operação para se acabar com a Lava Jato contarão muito, mas o peso que desequilibrará a balança será o desemprego e a recessão.
Vamos a um exercício de futurologia, tendo como pano de fundo a depressão continuada da economia: o governo Temer e sua base de apoio no Congresso completam o serviço sujo, livrando todos os políticos das punições dos crimes implícitos na prática de caixa dois (o que foi iniciado ontem, apesar da anistia não ter ficado explícita no texto desfigurado do pacote anticorrupção aprovado na madrugada de ontem) e ainda permitindo que os parentes de políticos (laranjas) tragam de volta o fruto do roubo depositado no exterior.
A emenda que possibilita a punição de magistrados e integrantes do Ministério Público por crime de abuso de autoridade, também aprovada ontem, é cinicamente vetada pelo presidente Michel Temer. O projeto volta ao plenário e o veto cai. O presidente lamenta publicamente, mas regozija-se na intimidade do Palácio do Planalto.
A população volta às ruas (coxinhas e petralhas) revoltada contra Temer. A esquerda sob a bandeira da manutenção dos direitos sociais e contra as reformas da previdência, trabalhista e da educação. A direita, contra o golpe na Lava Jato.
Sob pressão e acuado pelas denúncias que se avolumarão contra sua equipe (inevitáveis em função das escolhas feitas), Temer vê seu governo inviabilizado nas ruas e no Congresso ao perder o apoio do PSDB (alguém acredita na fidelidade tucana?). A renúncia se torna a única alternativa ante a possibilidade real de um processo desgastante de impeachment.
Eleições indiretas são marcadas e um cardeal da política, um nome apaziguador e acima do bem e do mal, é invocado para servir como mártir para o cumprimento do mandato tampão. Alguém que aceite um pacto conservador com o Congresso de não reverter o realizado durante Temer. Digamos, um FHC.
A transição é feita e a social-democracia brasileira sai ilesa do processo, ao contrário do PMDB e dos partidos de direita que submergiram abraçados a Temer. E, então, chegamos a 2018 com um repeteco do velho embate entre PSDB e Lula.
Com crescimento
Agora, o mesmo exercício de futurologia, simplificado por [/TXT_COL]um quadro improvável de crescimento econômico: todo o serviço sujo relatado acima é feito, as reformas trabalhista, da previdência e da educação são levadas a cabo. Amortecida pelo crescimento do emprego e da renda, a população esmorece e os movimentos de rua não decolam.
Protestos de estudantes e sindicalistas são sufocados ou ignorados pelo governo. Temer completa seu mandato vangloriando-se de ter vencido a depressão. E com chances reais de fazer seu sucessor, desequilibrando o jogo dual entre petistas e tucanos.
O que falta a Temer para que escolha o caminho mais fácil? Certamente, inteligência. A economia é sua tábua de salvação, mas o presidente escolheu para ministro da Fazenda um martelo sem cabo chamado Henrique Meirelles. Mergulharão juntos, levando todos nós a reboque.