Acesso ao crédito fica mais difícil, aponta Fecomercio-SP

Márcia De Chiara
29/01/2014 às 08:18.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:39

O paulistano enfrenta neste mês o pior janeiro para obter aprovação de uma linha de crédito dos últimos quatro anos. O indicador de acesso a financiamentos, apurado pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) e que integra o Índice de Intenção de Consumo das Famílias, ficou neste mês em 136,86 pontos, com queda de 15,7% em relação a janeiro de 2013, mas um pouco melhor do que o obtido em dezembro (alta de 3,3%).

"Há uma conjugação de fatores desfavoráveis ao crédito destinado aos bens de consumo", afirma o assessor econômico da Fecomercio-SP, Altamiro Carvalho. Entre esses fatores, ele aponta a maior seletividade por parte dos bancos na hora de dar sinal verde a novos empréstimos, a elevação dos juros ao consumidor por causa da alta da taxa básica, a Selic, e a menor propensão do paulistano de buscar novos financiamentos. A cautela do consumidor, por sua vez, foi provocada pelo alta da inflação e as despesas extras de início de ano que deixaram o orçamento das famílias apertado.

Na avaliação do economista, isso reforça as indicações de que janeiro não está sendo favorável para compra de bens duráveis. No Índice de Intenção de Consumo das Famílias deste mês, que registra queda de 0,4% em relação a dezembro e está 8,7% menor do que janeiro de 2013, os indicadores de momento para duráveis e nível de consumo atual, que compõem o índice, estão abaixo de 100 pontos, o que mostra um enfraquecimento da demanda.

Desde 2009, é a primeira vez que esses dois indicadores estão abaixo dessa marca, ressalta o economista. Os indicadores variam entre zero e 200 pontos. Resultados abaixo de 100 pontos são considerados insatisfatórios. Para construir os indicadores, a Fecomercio-SP consulta mensalmente 2,2 mil famílias na cidade de São Paulo.

No caso do indicador de momento de compra para bens duráveis, o tombo foi grande. Em janeiro, o indicador caiu 15,2% na comparação com dezembro e 32% em relação a janeiro do ano passado. Isso significa que as famílias paulistanas consideram este um momento ruim para compra de bens duráveis. Uma exceção à essa regra ocorre com os veículos, observa Carvalho, destacando que as vendas fecharam a primeira quinzena deste mês com crescimento. Mas, neste caso, as ofertas feitas pelas montadoras e concessionárias de automóveis estão falando mais alto na hora de fechar negócio.

Além do aperto no crédito, a elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre a linha branca (geladeira, fogão e lavadora) em outubro do ano passado teve impacto nos preços neste início de ano. Segundo Carvalho, muitos varejistas tinham produtos estocados com IPI menor e, neste início de ano, colocaram à venda mercadorias adquiridas com o IPI reajustado. Com isso, os preços subiram e o consumidor se retraiu nas compras.

Rolezinho

"Depois de um Natal fraco, a expectativa era de que as vendas aumentassem em janeiro", lembra Carvalho. Mas esse cenário não está se confirmando, diz o economista, baseado em relatos feitos pelos próprios varejistas. Além das condições pouco favoráveis ao consumo já captadas pelos indicadores de intenção de compras, o economista lembra que os "rolezinhos", movimento ocorrido nos shoppings nas últimas semanas, inicialmente capitaneado por jovens da periferia, devem ter afetado negativamente as vendas deste mês.

Imóveis

Apesar da maior dificuldade por parte do consumidor na hora de conseguir a aprovação de um financiamento para compra de uma geladeira, fogão ou lavadora, a oferta e a demanda por crédito para compra da casa própria seguem em ritmo acelerado.

Nas contas de Carvalho, no ano passado, até novembro, o último dado disponível do Banco Central, o crédito para compra de imóveis destinado a pessoas físicas cresceu 25% em relação ao mesmo período de 2012, de janeiro a novembro. A variação é real e desconta a inflação acumulada nesse período. Enquanto isso, nas contas de Carvalho, o acréscimo nos financiamento para bens de consumo foi de 2,5%, isto é, dez vezes menor do que o crédito imobiliário.

"As famílias estão aproveitando o momento de taxas mais altas para os bens de consumo e tomando empréstimos para a compra da casa própria, que têm juros menores e a cuja oferta é maior", diz o economista. Como o peso do aluguel é grande no orçamento das famílias, de 14%, segundo o economista, essa migração para o financiamento imobiliário deve, a médio prazo, beneficiar a compra de outros bens, porque sobrarão mais recursos destinados ao consumo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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