No limite

Alta dos custos tira do mercado motoristas que trabalhavam com carros alugados

Leíse Costa
leise.costa@hojeemdia.com.br
Publicado em 18/03/2022 às 06:30.
A Coopermapp nasceu há três anos em BH como alternativa às plataformas de mobilidade: ‘Aqui somos donos do negócio’ (Coopermapp/Divulgacao)

A Coopermapp nasceu há três anos em BH como alternativa às plataformas de mobilidade: ‘Aqui somos donos do negócio’ (Coopermapp/Divulgacao)

Depois de três anos trabalhando como motorista de aplicativo em Belo Horizonte e região metropolitana, Vanderlei Martins entregou no mês passado o carro que alugava na locadora e desistiu da profissão. “Pelo menos 30 amigos meus que também dirigiam já desistiram”, conta. Apesar de gostar da rotina no volante, Vanderlei disse que continuar trabalhando com o veículo alugado se tornou inviável. 

Vanderlei é mais um exemplo da debandada de profissionais das plataformas de mobilidade por causa das altas taxas cobradas, falta de lucro real e jornadas exaustivas, fatores agravados ainda mais com o novo aumento nos combustíveis em vigor desde o dia 11.

De acordo com a presidente do Sicovapp-MG (Sindicato dos Condutores de Veículos que Utilizam Aplicativos de Minas Gerais), Simone Almeida, é difícil mensurar quantos colaboradores, dentro do universo de 70 mil motoristas rodando na capital mineira, desistiram da profissão nos últimos dias. Mas uma coisa é certa: os que alugavam representam a maior parcela da debandada. “Com certeza, 90% dos que alugavam veículos devolveram por causa das taxas de cobrança de aplicativo, que ficam entre 35 e 50% sobre o valor da corrida”, diz. 

Em média, segundo a presidente, a locação de carro gira em torno de R$480 por semana. Soma-se ao aluguel os custos de manutenção e abastecimento, que variam de acordo com o modelo do veículo. “Quando se coloca na ponta da caneta, pagando locação e recebendo esse valores, vamos estar pagando para trabalhar”, afirma Simone. 

Simone avalia que o aumento de 6,5% na corrida, anunciado por uma das plataformas de mobilidade, é insuficiente. Só a chegada de novas soluções salvariam a prestação do serviço. “Já há empresas que nos procuraram para nos ouvir. Uma das alternativas é uma nova plataforma que não se sustenta só com as corridas; é um aplicativo que oferta vários produtos e cobra valor fixo e justo para o motorista e que, para o passageiro, os valores se equiparam aos já praticados pelos aplicativos conhecidos”, diz. 

Cooperativa

Nascida da insatisfação das condições de trabalho e remuneração dos aplicativos de mobilidade, a Coopermapp (Cooperativa de Motoristas de Aplicativos) atua desde 2019 em Belo Horizonte e já conta com 800 associados. “Como não conseguimos alterar o valor do combustível, buscamos parcerias para aumentar o lucro do motorista, ganhando desconto em postos de combustíveis, troca de óleo, alinhamento, chips, troca de pneus e outros serviços”, explica Claudikson Tavares, diretor de mobilidade Urbana da Coopermapp.

Segundo o diretor, é possível que um associado fature o dobro do que ganharia com as plataformas. Isso porque a taxa cobrada é única, no valor de R$3,50, independente da distância e tempo, além de ser cobrada do passageiro. “E o passageiro pode nos chamar não só pelo nosso aplicativo, pois, como somos donos do negócio, pode agendar pelo site, chamar no Whatsapp, qualquer canal”, diz.

Locadoras

Em alta na pandemia, o setor de locação de veículos afirma ter ciência do aumento na devolução de carros alugados por parte dos motoristas de aplicativo, mas, conforme Leonardo Soares, diretor executivo do Sindloc-MG (Sindicato das Empresas Locadoras de Automóveis do Estado de Minas Gerais), o movimento não chega a assustar o setor. “Foi um nicho que veio forte, mas durou um período curto. Hoje, essa modalidade representa cerca de 5% dos carros alugados”, afirma.

Para Soares, a queda na locação por parte dos motoristas de aplicativo não representa uma ameaça.“Até porque não acreditamos que o serviço de motoristas de aplicativos vá acabar; ele deve se adequar porque a demandas por mobilidade não para. Pelo contrário, só aumenta com a volta das atividades econômicas”, diz.

Dados do Anuário Brasileiro do Setor de Locação de Veículos mostram que a atividade de aluguel de veículos deu um salto de 33,5% no ano passado, atingindo o faturamento bruto anual recorde de R$ 23,5 bilhões. Segundo Leonardo Soares, os números representam o panorama mineiro, já que 70% da frota de carros alugados no Brasil é emplacada no Estado.

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