Embaixador da Holanda

André Driessen fala sobre sustentabilidade, mineração e investimentos em Minas

Rodrigo de Oliveira
rsilva@hojeemdia.com.br
17/11/2022 às 10:58.
Atualizado em 17/11/2022 às 13:18
André Driessen, Embaixador do Reino dos Países Baixos no Brasil (Fernando Michel/Hoje em Dia)

André Driessen, Embaixador do Reino dos Países Baixos no Brasil (Fernando Michel/Hoje em Dia)

O tema economia sustentável é debatido em todo o mundo na 27ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas, a COP 27, que termina na sexta-feira (18).

No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), em 2021, o setor movimentou R$ 339 bilhões. Só em Minas, estado onde a mineração é uma das principais vocações econômicas, existem mais de 400 barragens.

Hoje em Dia conversou com André Driessen, embaixador do Reino dos Países Baixos no Brasil - Holanda -, que também participou da Expo & Congresso Brasileiro de Mineração (Exposibram) 2022, realizada em setembro, no Expominas.

Driessen falou sobre sustentabilidade e o interesse dos países europeus em firmar parcerias para trazer soluções para as barragens em Minas.

Como vocês têm se organizado para mapear oportunidades de negócios em Minas?
Temos o Dutch Technical Team for Dam Safety (DTTD, sigla em inglês), cuja tradução livre seria Equipe Técnica Holandesa para Segurança de Barragens, que é um dos braços de uma parceria público-privada, chamada Partners for International Business (PIB).

O outro braço, o do poder público, é conduzido pelo Escritório Holandês de Apoio aos Negócios, ou Netherlands Business Support Office (NBSO), que também mantém estrutura na capital mineira.

As empresas têm realizado missões no Brasil para identificar problemas nas operações de rejeitos e contribuir para corrigi-los e a ideia principal é trazer mais segurança e sustentabilidade para o setor de mineração em Minas Gerais.

A mineração já é o quarto segmento de atuação desse PIB no Brasil. Os três anteriores, voltados a tratamentos de resíduos, logística marinha e moldais de transportes, envolveram 17 empresas parceiras e movimentaram em torno de € 1,3 milhão.

E como se daria esta parceria?
A ideia não é necessariamente trazer estas empresas para o Brasil, mas sim importar tecnologias para cá, trazer produtos, conhecimento e colaboração entre empresas brasileiras e holandesas.

O objetivo é que os players da mineração testem as tecnologias e avaliem as que podem ser inseridas em seus processos. São soluções principalmente para monitoramento, impermeabilização, dragagens, gerenciamento de recursos hídricos e diversas outras iniciativas.

Qual a perspectiva para o início destas parcerias?
Algumas empresas estão na fase de conversas preliminares e outras já estão bem encaminhadas, introduzindo projetos-piloto para aprovar seus produtos no Brasil. É um projeto complexo e que não acontece de um dia para o outro, uma vez que são exigidas certas certificações para que o produto seja usado no país.

Tivemos diversos atrasos provocados pela pandemia e posso afirmar que este é o primeiro ano real de trabalho. A perspectiva é a de que o projeto dure cerca de três anos.

E qual o know how da Holanda neste segmento?
Tivemos que evoluir muito nos processos de construção de diques, por conta das enchentes frequentes. Um terço de nossas áreas estão abaixo do nível do mar e metade com no máximo um metro acima deste nível. São 17 mil quilômetros de barragens e diques, espalhados em todas as regiões.

Hoje, por conta do que aprendemos e criamos, não sofremos mais com esse problema. São quase 1,5 mil obras de contenção, entre diques, barragens, açudes, estações elevatórias e barreiras contra tempestades.  

Podemos aprender muito com a experiência brasileira em mineração e, em conjunto com a expertise holandesa em segurança de barragens, podemos unir esforços para trazer soluções seguras para uma mineração mais sustentável.

Por qual motivo é importante investir aqui?
Minas Gerais é um lugar de excelência na mineração. Portanto, é um campo ideal para introduzir este tipo de produto e tecnologia. Minas também significa muito para os Países Baixos nos setores industrial, agrícola e transição energética. Esperamos crescer aqui como crescemos em todo o Brasil.

Recentemente tivemos duas grandes tragédias envolvendo o rompimento de barragens. Uma em Mariana, em 2015, e outra em Brumadinho, em 2019. Como a tecnologia de vocês pode garantir que tragédias como essas não ocorram novamente?
Assegurar 100% que nunca vai ocorrer nada é impossível. O que podemos dizer é que as tecnologias já são aplicadas em outras partes do mundo e são aprovadas e certificadas por lá. Para introduzir a tecnologia no Brasil também precisamos de certificações aqui, provando que elas também vão funcionar igual funcionam lá fora.

Hoje se fala muito sobre a importância da privatização e a diminuição da atuação do Estado. A iniciativa de vocês, porém, vai na contramão disso. Qual a importância de unir essas duas forças?
A parceria entre o poder público e a iniciativa privada é fundamental. Quando falamos em mineração, por exemplo, o assunto é muito complexo para ser delegado a apenas uma dessas esferas.

O poder público cuida de certos aspectos, como legislação, segurança, fiscalização, regulamentação e marcos legais. Já o poder privado executa os projetos e traz inovação.

Também é importante trabalhar dentro das universidades. Estamos assinando um memorando com a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) para fomentar pesquisas com empresas de mineração.

Mas, obviamente, o equilíbrio entre estas duas forças, o público e o privado, é uma decisão política de cada país, que vai decidir que tipo de sistema quer.

Para além de Minas e a mineração, como o senhor enxerga o potencial de investimentos no Brasil como um todo?
O Brasil tem um grande potencial econômico para investimentos e parcerias. Principalmente quando pensamos nos segmentos de sustentabilidade, agricultura e transição energética.

Em todos estes aspectos o Brasil tem um papel importante. Trata-se de um país grande, com uma economia grande e que precisa ser parte da solução global.

E, do outro lado da moeda, quais os desafios para se investir aqui? O que pode ser melhorado?
O Brasil é considerado um mercado difícil para se entrar. Seria interessante baixar algumas tarifas, que ainda são muito altas. Algumas destas tecnologias que pretendemos trazer, por exemplo, ainda nem existem no Brasil. 

Então, é importante haver taxas menores ou até mesmo uma isenção para que se torne mais viável e atrativo trazê-las para cá. 

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