Ao lado do filho, Jair Rodrigues lança o projeto “Samba Mesmo”, com 26 canções

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
24/03/2014 às 08:29.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:49
 (Divulgação)

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Jair Oliveira tinha apenas 6 anos quando subiu ao palco pela primeira vez ao lado de Jair Rodrigues. Mal sabiam eles que a parceria entre pai e filho aconteceria por muito mais vezes depois daquele encontro espontâneo. A última delas é o disco duplo “Samba Mesmo”, em que Jairzão interpreta 26 músicas nunca gravadas por ele, sob a produção de Jairzinho – dono do selo Sdesamba, responsável pelo lançamento, com distribuição da Som Livre.

Nesse projeto, todos os arranjos são para o samba, mas o repertório vai além do gênero – como os clássicos “Conceição”, “Como É Grande o Meu Amor por Você” e “No Rancho Fundo” (clássico de Lamartine Babo e Ary Barroso que ganhou a participação do filhos Jairzinho e Luciana Mello).

Há composições de Waldick Soriano, Gonzaguinha, Lupicínio Rodrigues, Nelson Cavaquinho, Dolores Duran, Cartola, Vinicius de Moraes e outros grandes. A produção valoriza arranjos suaves e sofisticados, que deixam destacar o vozeirão do intérprete.

O ponto de partida é a trilogia “Antologia da Seresta”, que Jair Rodrigues gravou entre o final da década de 70 e início da 80. A intenção era mostrar novamente a versatilidade do cantor. “Meu pai é sempre associado a um samba festivo. Quando você conversa com ele, percebe que isso faz parte de sua personalidade. Mas o lado intérprete de outros gêneros, como o samba-canção e a seresta, fica ofuscado. Ele também interpreta muito bem um lado tristonho”, afirma Jair Oliveira.

Jairzão adorou a ideia de buscar um caminho diferente em disco duplo. “Não é porque é meu filho, não, mas o menino é esperto, soube pensar numa boa ideia. Mas eu sugeri que colocássemos umas inéditas. Pegamos então uma do Martinho da Vila e outra do Roque Ferreira. Também liguei para o meu antigo parceiro Carlos Odilon e o lembrei que tínhamos feito um samba em 1974 que eu nunca gravei.ogo que entramos em contato, já relembramos a melodia e a letra”, conta Rodrigues, sobre a música “Força da Natureza”.

Terceira parceria entre pai e filho

“Samba Mesmo” é o terceiro projeto do Jair pai produzido pelo Jair filho. O primeiro aconteceu logo depois que Jairzinho voltou de Berklee, a mais famosa escola de música dos Estados Unidos. Ele comandou a produção do disco (em dois volumes) “500 Anos de Folia”, lançado pela Trama em 1999 e indicado ao Grammy Latino. Dez anos depois, a parceria voltou na gravação do DVD “Festa para um Rei Negro”.

Ambos são enfáticos em dizer que não é apenas o laço de sangue que os une nos projetos musicais. “O Jairzinho sabe aceitar as sugestões. Tem produtor que acha que aquilo que ele bolou que tem que ser o disco. O meu filho é diferente, pede palpite, aceita diálogo”, afirma Jairzão.

“O fato de ser família ajuda na relação, mas o trabalho acontece pelo respeito que um tem pelo outro. A química é boa e acabo sendo pai dele nas produções, por conta das várias decisões que tomo e ele acata e respeita”, completa o filho.

Quieto

Jairzão só não sabe ainda como será levar esse repertório tão diferente para o palco. “No dia 5 de abril, faço show de lançamento desse projeto no teatro Ibirapuera, em São Paulo, mesmo palco onde foi gravado o DVD ‘Festa pro Rei Negro’. Vai ser um pouco difícil para mim, porque não sei ficar quieto”, conta o artista.

“Esse é um disco que não pode ser levado para uma praça pública ou para um ginásio. Tem que ser feito no teatro. É um CD mais intimista, com 23 clássicos muito bem conhecidos pelo público e que merecem um cuidado especial”, acrescenta Jairzão, adiantando que “Disparada”, “Tristeza” e seus maiores sucessos também serão incluídos no novo show, mas com formatos diferentes.

Questionado por que não gravou um compositor jovem nesse projeto – além do filho, autor de “O Samba Me Cantou”, presente no volume 2 –, Jairzão diz não ter se encantado por nenhum. “As letras que estou cantando nesse disco não condizem com o ‘Lepo Lepo’. No dia em que a juventude fizer letras e melodias mais consistentes que o ‘Lepo Lepo’, tiver uma moda diferente, aí eu gravo”, brinca o cantor, que está completando 55 anos de carreira.

“Mas opções não faltaram para esse disco. Se eu quisesse fazer um trabalho com cem sucessos brasileiros que eu não havia gravado, conseguiria com muita facilidade”, completa.

Agenda cheia

Talvez Jair Rodrigues não conte com a presença do filho no show de 5 de abril. Jairzinho tem quatro datas de shows agendadas para o mês que vem no teatro do Museu Brasileiro de Escultura (MuBe). “Talvez eu apareça como espectador. Mas não poderei estar envolvido na produção do show do meu pai”, revela o filho.

Primeiro DVD é apresentado de forma afetiva

“Samba Mesmo” não é a única novidade que Jair Oliveira coloca no mercado por meio de seu selo SdeSamba. O artista está lançando seu primeiro DVD, “Jair Oliveira 30”, que foi gravado em 2011, quando ele celebrava 30 anos de carreira.

O repertório, com 20 faixas, e a condução do registro foi toda feita de uma maneira bastante afetiva. Jairzinho preferiu fazer uma apanhado de sua carreira de maneira cronológica, iniciando o show com “Disparada” (para deixar clara a influência deixada pelo pai), seguindo para “Io e Te” (música que cantou com Jairzão no Festival de San Remo, em 1982, lhe rendendo o convite para integrar o Balão Mágico).

Seu sucesso durante a infância é lembrado em três faixas e conta com a participação de Simony, parceira do Balão Mágico e de dupla depois do fim do projeto da Globo.

Quase todo o DVD é gravado com Jairzinho Oliveira ao violão. A exceção é uma sequência de cinco faixas que contam com as participações de amigos/família: Luciana Mello, Daniel Carlomagno, Max de Castro, Wilson Simoninha e Pedro Mariano.

“Houve uma demora no lançamento do DVD porque decidimos fazer um documentário, que foi incluído no Blu-Ray. E também porque faço parte de uma geração independente, que não conta com recursos de equipe e recursos. É a diferença entre fazer a reforma de uma casa com 30 pessoas ou com duas, que foi o nosso caso”, explica.
 

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