(Antonio Cruz/Abr)
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que a instituição não trabalha para reverter a alta do dólar e que vai deixar o câmbio se ajustar.
A ação do BC ficará concentrada em conter o repasse dessa alta para a inflação, com aumento dos juros, e oferecer proteção ao mercado contra variações bruscas no preço da moeda, por meio de intervenções.
“Não estamos brigando contra o preço do dólar em real. Temos de evitar efeitos secundários (sobre a inflação) e não buscar reverter o preço do dólar. A melhor linha de defesa é deixar o câmbio ajustar”, afirmou o presidente do BC durante audiência pública no Congresso Nacional.
Segundo Tombini, a valorização da moeda norte-americana é um movimento global de fortalecimento do dólar. Essa mudança tem como base o fato de a economia dos EUA estar crescendo acima do verificado em outros países.
Sobre o programa de intervenções no câmbio, Tombini repetiu o discurso que fez no mês passado ao ser confirmado no comando do BC no próximo mandato da presidente Dilma.
Disse que não há necessidade de reduzir o volume de contratos de câmbio que estão no mercado. Avaliou que esse estoque já atende de forma significativa à demanda por proteção cambial. Afirmou ainda que a instituição já começou a fazer empréstimos com dólar das reservas para atender à necessidade do mercado no fim do ano.
O dólar será um fator de contenção do déficit do Brasil nas suas transações com o exterior em 2015, segundo o BC.
“As perspectivas para o setor externo em 2015 são mais positivas e sustentam-se na expectativa de um maior crescimento global, na depreciação observada do real e na ampliação da produção interna de petróleo, fatores que devem contribuir para o melhor desempenho da balança comercial”, afirmou Tombini.
Eleições
Foi o dólar, e não as eleições, segundo Tombini, que guiou a política de alta de juros neste fim ano. O presidente do BC afirmou que, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de setembro, o dólar estava na casa de R$ 2,25. Foi o último encontro antes das eleições. Na época, a instituição manteve a taxa básica em 11% ao ano.
No encontro seguinte (que já estava agendado há um ano), três dias após a votação do segundo turno, o dólar estava acima de R$ 2,50. Na ocasião, o BC elevou a taxa para 11,25% ao ano.
Segundo Tombini, desde o fim de setembro, ou seja, antes das eleições, o BC já vinha sinalizando que voltaria a subir os juros. Isso foi feito em dois discursos, nos quais a instituição afirmou que não seria “complacente” com a inflação.
Tombini afirmou ainda que um fator que pode contribuir para a queda da inflação é o cumprimento da meta de superavit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB, bens e serviços produzidos) para 2015.
Inflação deve seguir aquecida, impulsionada por tarifas públicas
O custo de vida deve ficar ainda mais alto nos próximos meses, admitiu ontem o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. O recado foi passado de uma maneira muito clara, como poucas vezes se observou em sua gestão à frente da autarquia, iniciada em 2011.
A promessa é a de que, após atingir um pico em 2015, a inflação comece a desacelerar. Ajudará nesse processo, de acordo com o presidente do BC, uma guinada na política fiscal com as metas da nova equipe econômica.
“Entendo que não deveria ser tomado como surpresa, nos próximos meses, um cenário que contempla inflação acima dos níveis em que atualmente se encontra”, avisou. O IPCA fechou novembro com alta de 6,56% em 12 meses, acima do teto da meta de inflação (6,5%).
Tombini afirmou que o BC trabalhará para baixar o nível de inflação no ano que vem, mas a convergência para o centro da meta só deve ocorrer em 2016. A partir daí, acredita a autoridade monetária, os preços permanecerão controlados por muitos anos.
O discurso de Tombini no Congresso vem em linha com a decisão do BC de aumentar em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros, a Selic, na semana passada. Causou estranhamento, porém, ele ter deixado de lado a palavra “parcimônia”, interpretada pelo mercado como senha de que o Copom não adotaria altas agressivas de juros.
O termo foi retomado no comunicado que se seguiu à decisão de elevar a Selic a 11,75% ao ano. Um ritmo mais forte do que o anterior, pois na reunião de outubro o BC subiu os juros em 0,25 ponto percentual.
Por trás dessa expectativa de mais inflação, Tombini bateu na tecla novamente de que os preços controlados pelo governo devem ser reajustados mais fortemente no próximo ano.
Energia
No caso da energia, por exemplo, fontes do mercado estimam que as tarifas devem subir, no mínimo, 12% em 2015. Vão pesar nesse índice os empréstimos bancários firmados para socorrer as distribuidoras e o forte aumento do preço da energia produzida pela usina hidrelétrica de Itaipu.