A demanda interna apresenta um ritmo de crescimento maior do que o da indústria e o do comércio, na avaliação do Banco Central, expressa em seu Relatório Trimestral de Inflação, divulgado nesta quinta-feira. "As estatísticas relacionadas às vendas do comércio e à produção da indústria sugerem que o dinamismo registrado pela demanda interna no período recente não vem sendo acompanhado pelo desempenho do setor industrial", avaliaram os diretores do BC. Com isso, a expectativa da autoridade monetária é a de que o aumento da demanda interna deve ser atendida "ao menos parcialmente" pela importação de bens.
O BC ressalta que o consumo aparente de bens industriais (produção industrial doméstica e importações, menos as exportações do setor) cresceu 16,7% de 2008 a 2011, ante expansão de 15,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Nesse período, conforme o relatório, a produção subiu 5,9%, as importações avançaram 45,9%, mas as exportações de bens industriais caíram 18,8%. Dessa forma, exerceram contribuições de 6,1 pontos porcentuais, 6,9 pontos porcentuais e 3,7 pontos porcentuais para a expansão acumulada do consumo desses bens.
O Banco Central enfatiza que a indústria brasileira não se apropriou do crescimento do consumo de bens do setor no ano passado, como vinha fazendo em 2008 e 2010. "Vale ressaltar, ainda, que a participação dos importados no atendimento da expansão anual do consumo de bens industriais passou de, aproximadamente, 40% em 2008 e 2010, para 100% em 2011."
Ao abrir os dados, o BC informa que o consumo de bens de capital cresceu 44,3% de 2008 a 2011, favorecido pelas medidas de incentivo ao investimento implementadas pelo governo nos últimos anos, pelo otimismo do empresariado, por melhores condições de crédito e pela apreciação do real. Além disso, mostra que cerca de metade da demanda adicional por bens de capital foi atendida por importações, que cresceram 87,5% de 2008 a 2011 e, assim, responderam por 21,4 ponto porcentual do aumento do consumo aparente de bens de capital ante contribuição de 17,7 ponto porcentual da produção doméstica.
No caso do consumo de bens duráveis, segmento que mais se beneficiou das melhores condições nos mercados de trabalho e de crédito, o crescimento foi de 21,8% de 2008 a 2011. "Entretanto, a produção interna desses bens aumentou 5% nesse período e respondeu por 5,1 pontos porcentuais do aumento da demanda. Por conseguinte, o volume importado de bens duráveis cresceu 167,2% e contribuiu com aproximadamente dois terços do aumento total do consumo no quadriênio", consideraram os diretores.
Em relação à demanda por bens não duráveis, que é menos sensível ao crédito, o BC identificou uma menor taxa de crescimento entre os três segmentos, de 8,7% no período considerado. A produção interna se elevou 5% e respondeu por 5,3 pontos porcentuais do aumento registrado de 2008 a 2011 ante a contribuição de 2,2 pontos porcentuais de importações, que experimentaram expansão de 62,3%.
Para o BC, a demanda doméstica por bens industriais no Brasil experimentou "crescimento vigoroso" de 2008 a 2011, em média, de 3,9% ao ano. A decomposição do consumo aparente revelou que, no quadriênio analisado, parte significativa do aumento do consumo doméstico foi atendida por produtos importados, em especial nos segmentos de bens de capital e de consumo duráveis.
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