Prática é mais comum entre as classes C, D e E
Especialistas afirmam que as bets se transformaram em um fenômeno social que causa prejuízos econômicos, emocionais e educacionais profundos (Freepik/Divulgação)
O orçamento familiar já é diretamente impactado pelo avanço das apostas online no Brasil. Nada menos que 13% do montante que seria destinado a alimentos e bebidas foi gasto com as bets no segundo trimestre de 2025. A prática é mais comum entre as classes C, D e E, conforme o estudo Consumer Insights, da Worldpanel by Numerator - empresa global especializada em dados de consumidores.
O vício em apostas tem se tornando preocupação. Com publicidade massiva, celebridades promovendo plataformas e promessas de enriquecimento imediato, as “bets” transformaram-se em um fenômeno social que causa prejuízos econômicos, emocionais e educacionais.
Entre adolescentes e jovens adultos, especialmente em comunidades de baixa renda, o cenário é alarmante. “A pessoa sempre acha que pode parar, mesmo quando já está trocando atividades essenciais por um comportamento doentio”, explica Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (ABEFIN). Segundo ele, a compulsão pelo jogo é um dos vícios mais silenciosos e destrutivos da atualidade.
Ainda com relação ao alerta aos jovens, outra recente pesquisa - da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e Educa Insights -, mostrou as apostas também têm afetado o ingresso e a permanência de estudantes na graduação. O levantamento aponta que 34% dos entrevistados adiou o curso no início de 2025 em função de despesas com apostas.
E os impactos dos gastos em apostas online vão além de prejudicar o ingresso no ensino superior, tendo em vista que a pesquisa aponta também que 14% dos alunos já matriculados em instituições particulares atrasaram as mensalidades. O percentual ainda engloba aqueles que trancaram o curso por conta dos gastos com bets. O índice é ainda maior nas classes B1 e B2 – e atinge a marca de 17%.
Na semana passada, o Ministério da Fazenda publicou, no Diário Oficial da União, regras para impedir o cadastro ou o uso dos sites de apostas por beneficiários do Programa Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Os procedimentos devem ser adotados pelos operadores desses sistemas até o fim deste mês.
A medida cumpre decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiu uso de benefícios sociais para bets. Conforme a instrução normativa, os agentes de apostas devem consultar o Sistema de Gestão de Apostas (Sigap) para verificar se o usuário consta da base de dados de beneficiário do Bolsa Família ou do BPC.
As consultas, pelo número do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), devem ser feitas quando o usuário fizer o cadastro no site de apostas e quando efetivar o primeiro login do dia. Além disso, a cada 15 dias, os agentes de bets devem fazer a consulta de todos os usuários cadastrados em seus sistemas de apostas, para identificar aqueles que eventualmente tenham ingressado na base de dados dos programas sociais.
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