BH sofre com apagões: 32 bairros ficaram no escuro por tempo mais que o permitido

Tatiana Moraes - Hoje em Dia
28/01/2014 às 06:54.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:37
 (Ricardo Bastos/Hoje em Dia)

(Ricardo Bastos/Hoje em Dia)

A qualidade da energia entregue pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) em cinco das 13 áreas de distribuição (conjuntos elétricos) de Belo Horizonte é inferior à exigida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Segundo levantamento realizado pelo Hoje em Dia, nessas regiões, que concentram 32 bairros, o máximo de tempo em que os consumidores podiam ficar no escuro durante todo o ano de 2013 foi superado ainda em novembro. Os dados de fechamento de 2013, que incluem dezembro, serão divulgados no mês que vem.

Entre os conjuntos elétricos que apresentaram os piores resultados está o BH Adelaide, que abrange sete bairros: Caiçara, Pedro II, Minas Brasil, Padre Eustáquio, Glória, Alípio de Melo e Santo André, na Região Noroeste de Belo Horizonte.

Os consumidores desses bairros poderiam ficar, no máximo, 6 horas no escuro em 2013. No entanto, entre janeiro e novembro, o tempo limite já havia sido estourado em 24 minutos. Como reflexo, pequenos comerciantes sofrem as consequências.

É o caso da unidade da Sorveteria Almeida, localizada no bairro Padre Eustáquio. Por dia, o estabelecimento produz 400 kg de sorvete e 70 kg de açaí, tanto para vender no local quanto para distribuir. Para driblar a falta de luz, o proprietário, Antônio Morais Siqueira, afirma que costuma alugar geradores de eletricidade sempre que a energia apresenta falhas. “Se eu não alugar o gerador, perco tudo. Gasto um pouco mais, mas deixo de perder. O problema é que as falhas são frequentes, aumentando o meu gasto”, critica.

Quem costuma perder muito e ainda deixa de vender é a Blitz do Açaí, localizada na avenida Silviano Brandão, no Horto. O bairro faz parte de um conjunto elétrico que abrange, ainda, Sagrada Família, Cidade Nova, Nova Vista e Colégio Batista, nas regiões Leste e Nordeste de Belo Horizonte. Nesses bairros, o tempo máximo em que os consumidores poderiam ficar no escuro em 2013 foi de 4 horas. Porém, o indicador já chegou a 5h42min em novembro.

“A luz sempre cai aqui na região”, afirma o proprietário da Blitz do Açaí, Felipe Silva. Ele comenta que, quando há falhas na eletricidade, o prejuízo é enorme. “Uma vez a luz acabou à noite. Quando chegamos para trabalhar, pela manhã, tudo estava descongelado. Perdemos tudo”, diz. Além disso, ele comenta que as máquinas de cartão de crédito deixam de funcionar, impossibilitando as vendas.

Do outro lado da cidade, na Região Oeste, os bairros que ficaram no escuro tempo maior do que o permitido foram Gutierrez, Santo Agostinho, Barroca, Grajaú e Jardim América, que formam o conjunto elétrico Gutierrez. Enquanto o limite máximo era de 5 horas no escuro, os bairros ficaram 5h53min sem energia.

A proprietária da Pizzaria Capas, especializada em delivery no Jardim América, Dinalva Franco, sentiu no bolso as interrupções. Sem luz, ela não consegue receber os pedidos por telefone, que para de funcionar, nem receber pagamentos com cartão de crédito, já que as máquinas não podem ser carregadas.

“O delivery funciona das 18h às 22h40. Já ficamos esse tempo todo sem entregar, sequer, uma pizza. Sem contar que corremos o risco de perder os produtos perecíveis”, diz.

Os outros bairros que ficaram mais tempo no escuro do que o limite máximo estipulado pela Aneel são Planalto, São Luiz, Venda Nova, Vila Clóris, Tupi, Floramar, Heliópolis e Jaqueline, que compõem o conjunto elétrico Pampulha, além dos que formam o conjunto São Marcos: São Marcos, Santa Inês, Goiânia, Nazaré, Guarani, Ribeiro de Abreu e São Gabriel.
 


 

Sindicato acusa falta de pessoal

A redução do número de trabalhadores diretos da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), que despencou de 20 mil na década de 90 para 7 mil em 2013, é o principal motivo para a queda da qualidade da energia distribuída pela estatal, conforme o diretor do Sindicato dos Eletricitários Jefferson Leandro Silva.

Ele comenta que, devido à redução da mão de obra qualificada, os programas de manutenção preventiva que eram realizados constantemente na rede foram deixados de lado, sucateando o sistema.

“Hoje, a rede é precária, com vida útil curta. Qualquer vento forte ou chuva derruba a luz. E quem paga a conta é consumidor”, afirma.

O diretor do sindicato comenta, ainda, que grande parte dos funcionários próprios foi substituída por terceirizados, que não recebem treinamento qualificado o suficiente para operar o sistema.

O resultado seria a demora para restabelecer a energia. “Além de o serviço ser pior, vidas são ameaçadas. A cada 45 dias, é registrado um acidente na Cemig. A maioria das vítimas é de funcionários terceirizados”, denuncia.

Por nota, a Cemig informou que está fechando o levantamento da Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC) dos 13 conjuntos da capital em 2013 para enviar à Aneel. A empresa afirmou que fará uma análise sobre os índices de continuidade do fornecimento em Belo Horizonte.

Embora os resultados de cinco dos 13 conjuntos elétricos da companhia apresentem problemas, o tempo médio geral em que os clientes da estatal ficaram no escuro, até novembro (11h13min), ainda está dentro do limite estabelecido pela Aneel para o ano, de 12h07min. Caso a média mensal de 1h01min se repita em dezembro, no entanto, o limite será estourado.
 

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