Bolsa brasileira vira e fecha em alta de 0,67%; dólar vai a R$ 2,252

Folhapress
20/06/2013 às 19:12.
Atualizado em 20/11/2021 às 19:19

SÃO PAULO - Na contramão dos principais mercados externos, que fecharam esta quinta-feira (20) em forte queda em meio a sinalização de que os estímulos econômicos nos EUA poderão começar a ser cortados ainda este ano, o principal índice de ações da Bolsa brasileira, o Ibovespa, encerrou o dia em alta de 0,67%, para 48.214 pontos. O Ibovespa chegou a cair mais de 4% ao longo do dia, para 45.929 pontos. Segundo analistas, a virada da Bolsa brasileira reflete a percepção de alguns investidores estrangeiros de que o mercado brasileiro ficou "barato em dólar".

O dólar à vista -referência para as negociações no mercado financeiro- teve valorização de 3,42%, para R$ 2,252 na venda. O dólar comercial -utilizado no comércio exterior- subiu 1,71%, para R$ 2,258. Ontem, o Federal Reserve (banco central americano) anunciou que poderá começar a reduzir ainda neste ano seu programa de compra de títulos públicos, no valor de US$ 85 bilhões mensais, o qual foi adotado em 2009 para estimular a economia dos EUA.
 
Segundo especialistas, embora o mercado já soubesse que o corte seria implantado em algum momento, houve surpresa com a aproximação do prazo dado pelo Fed. A instituição prevê que até a metade de 2014 seu programa de estímulo seja totalmente encerrado. "O prazo para encerrar o estímulo está perto", avalia André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. "Ele [o Fed] basicamente disse que vai deixar de injetar cerca de US$ 1 trilhão na economia americana -e consequentemente global- em um prazo de 12 meses".

Dólar

A procura por aplicações mais seguras impulsionou a cotação do dólar, que chegou a atingir R$ 2,278 ao longo do dia, alta de mais de 4% sobre o fechamento de ontem. O movimento forçou o Banco Central a tomar medidas para aumentar a oferta da moeda no mercado, reduzindo sua cotação.
 
A autoridade promoveu dois leilões de linha de crédito em dólar, no valor de US$ 3 bilhões. Esse tipo de intervenção foi bastante usada pelo BC brasileiro para conter a volatilidade do mercado após a crise de 2008. "É um mecanismo usado para compensar a demanda que está havendo por dólar e que busca tentar diminuir a alta da moeda", explica Alcides Leite, economista e professor da Trevisan Escola de Negócios.

De acordo com Daniel Moreli, superintendente de tesouraria do Banco Indusval & Partners, o leilão de linha de crédito é específico para ajudar o exportador a ter recursos para produzir. "Essas linhas são oferecidas pelos bancos brasileiros para as empresas, mas elas tendem a diminuir por conta de aversão ao risco já que os bancos nacionais contratam linhas de crédito com bancos internacionais, que tendem a ser mais seletivos em cenário adverso", explica Moreli.

Assim, quando o BC oferta essa linha de crédito, ajuda a diminuir o impacto da diminuição de liquidez que o exportador necessita para suas atividades. A autoridade já havia realizado nesta manhã um leilão de swap cambial tradicional, que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. Foram vendidos 60 mil contratos, com vencimentos em 2 de setembro e 1º de outubro de 2013, no valor total de US$ 2,986 bilhões. Foi o nono leilão de swap cambial tradicional que o BC realizou em pouco mais de uma semana.
 
Bolsa

A aversão ao risco provoca uma fuga de investidores do mercado de ações, que é considerado mais instável. Além da decisão do Fed, também prejudica o Ibovespa referências negativas vindas da China. "Bernanke deu de ombros para o mercado, que se irritou bastante. De um modo geral o cenário traçado para a economia americana em 2014 está bem otimista. Não bastasse a "insensibilidade" de Bernanke conosco, o Banco Central chinês resolveu, em momento extremamente infeliz, contrair liquidez por lá", diz Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora.

A redução do volume de crédito na China gera cautela, segundo especialistas, pois pode significar uma demanda menor do país asiático por commodities (matérias-primas), prejudicando as vendas das exportadoras brasileiras. Outro fator que pressiona o mercado acionário nacional é a perspectiva de que o segundo passo do Fed após o corte nos estímulos seria a elevação do juro básico nos EUA.

Esse processo deixaria os títulos do Tesouro americano, remunerados pela taxa e considerados de baixo risco, mais atraentes aos investidores globais do que aplicações em Bolsas emergentes. "Se subirem os juros nos EUA, pode haver a migração de investimentos do Brasil para os EUA. Os investidores vão preferir deixar seu dinheiro em lugares de risco pequeno, como os títulos americanos, ao invés de deixá-los aqui, onde a economia 'patina' e o governo não tem conseguido êxito em suas medidas", diz Pedro Galdi, analista da SLW Corretora.

Às 16h18, as ações mais negociadas da Petrobras (PETR4) caíam 2,84%, para R$ 16,71, pressionando o desempenho do Ibovespa. Esses papéis representam mais de 8% do índice. Fora do Ibovespa, os papéis da CCX, empresa de carvão de Eike Batista, afundavam 42,97% no mesmo horário, para R$ 0,73. O movimento reflete a decisão de Eike Batista de não realizar a OPA (oferta pública de aquisição de ações) para fechar o capital da empresa. O empresário atribuiu a desistência à "deterioração das condições do mercado acionário brasileiro", que teria afetado tanto a empresa de carvão quanto as demais do grupo EBX que seriam usadas como moeda de troca para tirar a companhia da Bolsa.

Perspectivas
 
Mesmo diante de um cenário desafiador para o mercado financeiro, Paulo Gala mantém otimismo sobre o país, e diz que o Brasil tem fundamentos para enfrentar a crise. "Apesar da conta corrente ter piorado e a inflação estar no teto da meta, nossa posição externa ainda é relativamente boa. Somos menos dependentes de capitais de curto prazo, como México, Turquia e África do Sul, e temos posição de reservas robusta. Contas públicas pioram na margem, mas a relação entre dívida e PIB ainda é razoável. Podemos, sim, ter nosso rating [nota] de dívida rebaixado, mas me arriscaria a dizer que o Brasil ainda tem posição relativamente boa no cenário dos emergentes", completou Gala.

No entanto, para Bruno Gonçalves, analista da WinTrade/Alpes Corretora, enquanto não for feito um ajuste nas contas externas, o País continuará vulnerável ao capital especulativo. "Quando você tem essa situação de déficit na conta corrente, quanto pior o déficit, mais efeito tem sobre a moeda brasileira", afirma.

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