Brasil tenta novo acordo com Argentina

Mauro Zanatta
11/03/2014 às 09:09.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:33

Uma missão de autoridades brasileiras estará em Buenos Aires na sexta-feira, 14, para costurar os detalhes de uma "operação salvamento" do comércio Brasil-Argentina. O governo brasileiro oferecerá como alternativa a ampliação das transações com pagamento em moeda local, o que permitiria fechar operações sem o uso de dólares.

O sistema, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, teria estrutura de garantia em dólares dos bancos centrais, o que daria a exportadores e importadores de ambos os lados a opção de pagar e receber em pesos ou reais por meio de uma instituição bancária.

Um reforço no sistema de pagamento em moeda local complementaria outra proposta em negociação para auxiliar grandes exportadores, responsáveis por 50% do comércio bilateral, como indústrias de automóveis, autopeças, máquinas e equipamentos. Os dois governos têm discutido, após sugestão do Ministério do Desenvolvimento, antecipada pelo Estado em fevereiro, a criação de uma linha de crédito à exportação de até US$ 2 bilhões. As operações teriam prazo de três meses, renovação automática, mas sem garantia do Tesouro brasileiro.

As bases do acordo estão prontas, informam fontes do governo. Os argentinos foram "receptivos" à proposta e têm ajudado a aperfeiçoar as alternativas. O setor privado nacional tem participado de discussões reservadas. "Temos boas perspectivas de acordo", diz uma autoridade.

Foco

Além de reduzir custos financeiros com a conversão de moedas e a dispensa do contrato de câmbio, a medida facilitaria o acesso de pequenos e médios exportadores e importadores, como fabricantes de calçados, foco de problemas mais agudos. Até aqui, essas empresas estavam fora do amparo desenhado pelos governos.

O tema foi discutido em várias ocasiões, inclusive numa reunião entre o ministro Guido Mantega e seu colega argentino Axel Kicillof, na véspera do carnaval. Itamaraty e BC também respaldam os debates técnicos e políticos. Uma missão argentina já esteve em Brasília para tratar do assunto.

Em declínio desde o início da crise cambial argentina, o intercâmbio comercial tem piorado mês a mês, sobretudo nos manufaturados. No primeiro bimestre, as vendas brasileiras ao vizinho recuaram 12%, para US$ 2,37 bilhões. A fatia argentina nas vendas nacionais caiu de 8,5% para 7,4%. As importações da Argentina encolheram 23%.

O total de importações e exportações entre os parceiros está em declínio: em janeiro, teve o pior resultado desde o início de 2013. Em fevereiro, a média diária de vendas do Brasil caiu 9,7% ante igual mês de 2013, para US$ 1,16 bilhão.

O mau desempenho da balança comercial até aqui mobiliza o governo brasileiro. A Argentina tem papel essencial na estratégia, já que absorve boa parte dos manufaturados. "Uma solução duradoura ajuda o fluxo deles também. E desafoga aqui", avalia a autoridade. Em 2013, a Argentina comprou US$ 19,6 bilhões. E vendeu US$ 16,4 bilhões ao Brasil.

No desenho original da proposta da linha de crédito, as operações teriam a classificação de risco das empresas e não dos países. Isso ajudaria a driblar as restrições à Argentina no mercado internacional. Uma multinacional poderia, por exemplo, fazer essa operação com seu rating no banco de preferência, criando uma linha para a subsidiária do Brasil que serviria à empresa argentina do grupo. Estaria, assim, garantida a operação e o fluxo bilateral de comércio. Pela proposta, o dinheiro seria "carimbado" para comércio exterior e não poderia ser usado para outros fins. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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