Brasil ultrapassará Itália neste ano e, em 2020, estará entre os cinco maiores

Tatiana Moraes - Hoje em Dia
22/02/2016 às 07:08.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:31
 (Arte HD)

(Arte HD)

O Brasil ingressou há pouco no mercado de energia eólica, mas já caminha para se tornar uma potência internacional. O país, que ocupa a décima posição no ranking dos maiores produtores da eletricidade gerada a partir do vento, está cotado para ultrapassar a Itália ainda em 2016 e pular para a nona colocação. Até 2020, a previsão da Associação Brasileira de Energia Eólica (AbeEólica) é a de que a bandeira brasileira figure entre as dos cinco principais produtores de eólica do planeta.

O país começou a produção comercial de maneira tímida, em 2004, com a injeção de 6,6 megawatts (MW). O volume era irrisório. Em 2005 houve uma lacuna, retornando a produção em 2006 com 208,3 MW de potência. Até que saltou, em 2014, para 2.784 MW e, em 2015, para 2.655 MW. Para este ano, a expectativa é a de que 2.281 MW sejam injetados no Sistema Interligado Nacional (SIN), conforme relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Em 2015, os parques eólicos brasileiros somavam 8.720 MW de potência instalada, ou 8,72 Gigawatts, e chegaram a 9 GW na semana passada. O montante equivale à usina de Belo Monte, a segunda maior do país, e é suficiente para abastecer cerca de cinco milhões de consumidores, ou seja, mais do que o Paraná. “A Itália injetou 200 MW na rede no ano passado. O Brasil está injetando de 2 a 3 GW por ano”, comemora a presidente da AbeEólica, Elbia Gannoum. No entanto, ela ressalta que ultrapassar a China é praticamente impossível. “A China cresce um Brasil de energia por ano”, afirma Elbia.

Investimentos

Os investimentos no setor também são ressaltados pela executiva. Afinal, nos últimos dois anos foram investidos R$ 30 bilhões e criados cerca de 81 mil postos de trabalho de todos os tipos, desde chão de fábrica até executivos. A expansão é resultado da viabilidade comercial desse tipo de geração. Enquanto o megawatt-hora (MWh) comercializado nos últimos leilões pelas grandes usinas, como Belo Monte e Jirau, girou em torno de R$ 80, o MWh das eólicas foi pouco superior a R$ 100, conforme afirma o presidente da CMU Energia, Walter Fróes. “As eólicas foram mais competitividas do que as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs)”, diz o especialista.

Ele afirma, no entanto, que a escalada do dólar pode atrasar projetos. Embora Elbia lembre que o Brasil já possui fornecedores de geradores e turbinas, que são o coração das torres eólicas, Fróes afirma que muitos dos fabricantes são, na verdade, empresas de montagem. “O produto é importado e montado no Brasil. Com a alta do dólar, acredito que o megawatt-hora das eólicas não deva ficar abaixo de R$ 200 nos leilões, perdendo um pouco da competitividade no curto prazo”, diz.

Potencial e desafios

Minas Gerais vai entrar de cabeça na rota das eólicas nos próximos dez anos, segundo o presidente da Efficientia, empresa do grupo Cemig, Alexandre Heringer. A tecnologia será a principal aliada do Estado na briga por uma fatia no mercado da energia gerada a partir do vento, hoje comandado por Rio Grande do Norte (RN), com 2,8 GW, o equivalente a 33% da energia eólica gerada em território nacional. Em segundo lugar aparece a Bahia (BA), com 1,6 GW, seguida pelo Rio Grande do Sul (RS), com 1,5 GW.

Potencial para disputar uma parte do mercado, Minas tem. Nas alterosas, segundo o Atlas Eólico, estudo desenvolvido pela Cemig há alguns anos, seria possível instalar 39 gigawatts de potência. É o mesmo que dizer que poderíamos instalar duas usinas de Itaipu em Minas Gerais.

Apesar do potencial, falta viabilidade comercial para produzir energia a partir do vento. Conforme explica Heringer, os locais de mais vento estão localizados no topo dos morros, enquanto no Rio Grande do Norte, no Ceará e na Bahia, por exemplo, as áreas de fortes ventos estão em planícies no litoral. “É muito mais fácil instalar uma torre eólica em uma planície do que no topo de um morro, com terreno irregular. No futuro, no entanto, essas áreas serão competitivas”, prevê.

Torres

Elbia afirma que torres de até 120 metros estão em estudo em São Paulo. A aprovação desse tipo de equipamento facilita a implantação das eólicas no Estado. Afinal, neste caso, não seria necessário ir até o topo dos morros.

O membro do Instituto de Desenvolvimento do Setor Energético (Ilumina) e consultor, Roberto D’araújo, lembra, no entanto, que a energia eólica é variável, ou seja, intermitente, e pode gerar instabilidade elétrica. “Na China os parques eólicos são instalados juntos a grandes baterias solares. O objetivo é não interromper abruptamente o fornecimento de energia, caso pare de ventar. No Brasil, este tipo de tecnologia ainda é escassa”, diz. Além de ventos fracos, ventos muitos fortes também podem interromper o abastecimento elétrico e causar insegurança.

O especialista comenta, ainda, que é uma ilusão pensar que a energia eólica é uma fonte 100% limpa. Além de ser necessário desabitar uma grande área devido à poluição sonora (os ruídos emitidos pelas pás são muito fortes), as torres comumente matam centena de pássaros. “Não existe fontes totalmente limpa. Todo tipo de geração de energia possui prós e contras. O ideal é combinar as matrizes de forma a causar o menor dano possível”, destaca.

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