O BVA, que está sob intervenção do Banco Central (BC) há quase dois meses, tem até agora um passivo a descoberto de aproximadamente R$ 1,5 bilhão. O valor total pode ser maior ou menor, porque o processo de levantamento e análise dos números só deve terminar no fim desta semana. Segundo fontes que acompanham o caso, ainda há chance de o BVA não ser liquidado. A decisão final será do BC.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que há dois trabalhos de avaliação correndo paralelamente. Um deles é o do BC, que definiu como interventor do banco o funcionário de carreira Eduardo Félix Bianchini. O outro processo está sendo comandado pelo banco de investimentos BR Partners, contratado pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
A estimativa de um passivo próximo de R$ 1,5 bilhão é do BC. Bianchini foi procurado pela reportagem, mas não se pronunciou. O trabalho do FGC ainda não terminou. A expectativa é de que os números das equipes lideradas pelo BR Partners sejam conhecidos até o fim desta semana.
Esses números são fundamentais para saber se o BVA terá ou não salvação. Uma proposta firme pelo banco só poderá ser feita - e avaliada pelo BC, que tem a palavra final no assunto - com os dados detalhados em mãos.
Diferentemente de outros bancos que quebraram no País nos últimos anos (notadamente Panamericano e Cruzeiro do Sul), no BVA, até agora, não foram encontradas fraudes. O passivo a descoberto é fruto, principalmente, de garantias de créditos concedidos pelo banco.
Segundo pessoas que conhecem a instituição, o BVA tinha como característica emprestar para empresas de médio porte e deixar a maior parte do débito para ser liquidada no final do contrato. Como contrapartida, exigia garantias, como imóveis.
Entre os ativos do banco constam pouco mais de R$ 300 milhões em imóveis executados por inadimplência. O problema é que, em muitos casos, a documentação do imóvel está incompleta. Não há, por exemplo, certidão de registro em cartório.
O mesmo ocorre com imóveis que são garantia de empréstimos que ainda estão na carteira. A legislação obriga o BC a fazer provisões para todos esses empréstimos com garantias duvidosas. Por isso, a conta do passivo total está perto de R$ 1,5 bilhão.
Se as garantias se revelarem reais, o buraco final será menor. De outro lado, a apuração dos números pelos técnicos poderá revelar passivos que até agora não apareceram e, consequentemente, inviabilizar o banco.
Apesar das incertezas, haveria três interessados no BVA. Um deles é Carlos Alberto de Oliveira Andrade, do grupo Caoa. Com cerca de R$ 600 milhões presos no BVA, Andrade já procurou o FGC, que é o maior credor do banco hoje. O Fundo já pagou a investidores cerca de R$ 1 bilhão. Eram empresas e pessoas físicas com depósitos no BVA.
A ideia de Andrade é unir os dois maiores credores para salvar o banco. Juntos, ele e o FGC têm R$ 1,6 bilhão. O dinheiro poderia ser convertido em capital e usado para abater o passivo a descoberto. Se o buraco for mesmo próximo de R$ 1,5 bilhão, o novo controlador teria apenas de injetar um montante para manter o BVA funcionando. Ao evitar a liquidação, Andrade abriria a possibilidade de recuperar o que tem.
Procurado pela reportagem, o dono do grupo Caoa informou, por meio da assessoria de imprensa, que realmente está negociando a compra do BVA. Mas informou que não há uma definição sobre o assunto. Além de Andrade, há outros dois interessados, que, até agora, não fizeram proposta. Ambos estariam à espera dos números finais da instituição.
O BC interveio no BVA porque o banco não conseguiu honrar alguns depósitos de clientes. É o que se chama tecnicamente de crise de liquidez. Por isso, os atuais controladores estão buscando clientes com dinheiro no BVA para que eles aceitem um período de carência para sacar seus recursos no caso de o banco ser mesmo vendido.
Procurado, o FGC não se pronunciou. Os controladores do BVA não comentaram. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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