Cesta básica em BH engole metade do salário mínimo

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
03/08/2016 às 07:06.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:08

O custo da cesta básica, que fechou o mês de julho em R$ 427,16 em Belo Horizonte, já equivale a praticamente metade do valor do salário mínimo (48,5%), hoje em R$ 880. Apenas neste ano, a lista dos alimentos básicos já encareceu 10,73% e seguirá em tendência de alta até o final do ano. Ou seja, para cerca de 40% da população de Belo Horizonte que ganha até um salário mínimo, os rendimentos ficarão cada vez mais comprometidos com o custeio do essencial na alimentação.


Os dados foram divulgados ontem, pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Fundação Ipead/UFMG). O produto da cesta básica que mais encareceu no ano foi o tomate, com alta de 122,13%. A manteiga teve uma elevação de 39,21% e o leite pasteurizado, de 31,29%. 

“Em julho do ano passado, a cesta básica custava R$ 354,22. Em um ano, aumentou 20,6%. O salário mínimo nunca sobe nessa proporção”, afirma a coordenadora de pesquisas da Fundação Ipead, Thaize Vieira Martins Moreira. Ela explica que a alta dos alimentos se deve à redução na oferta por questões climáticas. É o que aconteceu, por exemplo, com o feijão. 

“Apesar do cenário da queda da inflação em julho, os alimentos continuam em ritmo de altas consideráveis. A alta da cesta básica já se tornou preocupante porque não há tendência de reversão do quadro”Thaize Vieira Martins Moreira - Coordenadora de pesquisas da fundação ipead

No caso do leite, são dois os motivos da alta: desestímulo à produção por causa da baixa remuneração no campo e a redução das pastagens, que obriga a compra de rações num momento de elevação dos preços. Mas, independentemente dos motivos, Thaize trabalha com a perspectiva de novos aumentos a partir de outubro. 



O Ipead também divulgou ontem os dados da inflação até julho, e o destaque também foi a alimentação na residência, que nos primeiros sete meses do ano subiu 9,09%, puxada pela elevação de 14,01% dos alimentos de elaboração primária. Já os produtos industrializados subiram 7,78%, e os in natura, 3,34. 

Em Belo Horizonte, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação medida pela Fundação Ipead, ficou em 6,59% no acumulado do ano, e em 10,86% no acumulado de 12 meses.



Os gastos com habitação na capital subiram 12,61% nos sete primeiros meses de 2016. Somente os encargos e manutenção, onde entram, por exemplo, condomínio e aluguel, a alta acumulada bateu em 13,08%. 

Para o vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen, no caso de habitação, existe resistência por parte dos proprietários de imóveis para uma redução mais robusta dos preços. “Não existe justificativa para o item habitação subir em uma fase em que vários imóveis estão fechados na capital”, afirma. 

Aliás, não seria também o excesso de demanda que justificaria uma inflação ainda tão alta, na visão do economista. O IPCA em julho, de 0,10%, foi bem mais baixo que o do mês anterior, de 0,83%, mas a diferença ainda não é motivo de comemoração. “Já deveríamos estar com uma inflação muito mais baixa se levarmos em conta que o consumo caiu muito”, afirma Pettersen. 

Para ele, ao invés de deixar a taxa de juros alta para tentar segurar a inflação, o governo deveria partir para o estímulo à produção. Isso porque, manter as fábricas com capacidade ociosa também gera um custo que bate no preço final da mercadoria.



Com o custo de vida nas alturas, a maioria dos belo-horizontinos optou por não presentear os pais neste ano, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Ipead/UFMG. Mais da metade dos entrevistados (57,14%) disseram que não pretendem comprar presente para o Dia dos Pais. 

Os outros 42,86% que pretendem presentear estão comedidos. Tanto que 76,67% deste grupo de entrevistados devem gastar o mesmo valor ou menos que no Dia dos Pais do ano passado. Apenas 16,67% devem gastar mais e 6,67% não sabem. 

A fotógrafa Ana Jardim, de 27 anos, faz parte dessa estatística. Ela não vai comprar presente neste ano e a justificativa é a crise. 

Da mesma forma, a estudante de fotografia que trabalha em uma editora de fotos, Anita Custódio de Melo, de 24 anos, vai economizar neste ano. Ela conta que em 2015 estava desempregada e que, por isso, não teve condições de presentear o pai. Neste ano, por causa do temor de perder o emprego, novamente ela preferiu guardar o dinheiro. 

A notícia é péssima para os comerciantes da capital. Segundo o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Bruno Falci, os lojistas esperam vendas um pouco menores do que no ano passado. Como o cenário é totalmente de incertezas, ele não descarta a possibilidade de ao menos empatar com 2015. “O cenário não está bom. Mas pode ser que alguém consiga vender. Só dá para ter certeza na hora”, afirma.



Com tantas dúvidas, os lojistas optaram por formar um estoque menor do que o do ano passado. Para grande parte dos lojistas, a data pode ser a chance de desovar mercadorias “encalhadas”, já que as vendas estão baixas há mais tempo.

Segundo a coordenadora de pesquisas da Fundação Ipead, Thaize Vieira Martins Moreira, a menor intenção de compra está diretamente ligada com o pessimismo. 

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), também divulgado ontem pela entidade, ficou em 31,68 pontos, bem abaixo dos 50 pontos a partir dos quais passa a ser medido otimismo. 
 

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