(Editoria de Artes)
O número de consumidores de energia que optam pelo mercado livre mais que dobrou no Brasil de 2010 a 2014, e as perspectivas negativas para o mercado cativo no longo prazo deverão acelerar a migração de clientes para o modelo em que a energia é negociada livremente e o consumidor escolhe de quem comprar.
O movimento de migração já foi iniciado, mas por questões de adaptação apenas em 2016 os grandes consumidores devem começar a operar efetivamente no segmento, que hoje representa 27% da energia total consumida no país, embora contabilize apenas cerca de 5% do total de consumidores.
O aumento no preço da energia, que de janeiro a agosto deste ano chega a 47,3% na média do país, conforme dados da inflação (IPCA) medida pelo IBGE, é um dos fatores que minam a competitividade do mercado cativo na concorrência com o mercado livre.
“Os serviços de meteorologia indicam que vai parar de chover, então o preço deve subir um pouco até o final de setembro, o mercado spot (livre) vive disso. Mesmo com essas variações de preço, a migração de consumidores para o mercado livre se intensifica porque o governo fez tanta barbeiragem que não há expectativa de queda de preço no mercado cativo, pelo menos para os próximos cinco anos”, disse o diretor da CMU Energia, Walter Fróes.
Vulnerabilidade
No cativo, o consumidor está vulnerável aos erros de planejamento e todas outras variáveis que podem influenciar o preço da energia, sendo que ele paga esses custos acumulados na data da revisão tarifária.
No mercado livre existem as mesmas variáveis que afetam o preço, mas o próprio cliente é responsável por administrá-los, como definir a melhor data para compra e o volume e prazos da operação. A diferença é que no mercado livre os valores variam semanalmente, conforme a oscilação do Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), referência para a negociação. Ele varia conforme prazos e volumes negociados.
“Estamos vendo uma nova migração de consumidores para o mercado cativo por conta do aumento das tarifas das concessionárias para os seus consumidores, devido ao repasse para a tarifa dos custos da maior geração térmica nos últimos 3 anos, que ocasionaram elevados custos para as distribuidoras (pela exposição por não contratação de energia pelo Governo)”, disse o sócio-diretor da Eenecel Energia, Raimundo Batista. Para ele, novos aumentos acima da inflação vão ocorrer em 2016, o que tornarão a opção mercado livre como “extremamente viável para redução dos custos de médios consumidores”.
Preço baixo
O cenário para os grandes consumidores também favorece o mercado livre, avalia Batista. “Estão tendo oportunidade atualmente de comprar energia no mercado livre para complementar o atendimento à sua demanda, a preços abaixo da tarifa da concessionária, podendo esta situação melhorar ainda mais com a chegada do período chuvoso. Cabe ressaltar que essa redução de preço está atrelada a uma forte redução da atividade econômica do país que, por sua vez, provocou forte impacto no consumo de energia elétrica”, explicou.
Participação
Apesar do maior número de clientes, a participação do mercado livre no total de energia consumida no país deve ser pouco alterada em decorrência do baixo dinamismo da economia. “Pelo impacto da crise financeira, a média (de participação)deve se manter a mesma, girando entre 25% e 27% até o final do ano. Contribuem para esse cenário a redução do consumo do comércio e dos clientes residenciais. Para que houvesse um aumento da participação do mercado livre de energia, necessariamente deveria aumentar o consumo nesses dois estratos de clientes”, afirmou.
A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) informou que o PLD para o período de 19 a 25 de setembro foi fixado em R$ 222,23 por megawatt/hora para todos os submercados. O valor corresponde a aumento de 11% em relação ao praticado na última semana. A CCEE credita a variação de preço à queda de 106% para 98% da média histórica de chuvas no período.
- Em setembro, o PLD deverá ficar em média cerca de 15% abaixo da tarifa do consumidor industrial cativo, tensão de suprimento em 13,8 kV