Foi dada a largada para as liquidações de início de ano. Em tempos de recessão, os descontos de até 70% prometem atrair consumidores, limpar estoques e dar fôlego aos caixas dos lojistas, que estão otimistas. Alguns estimam faturar mais do que em janeiro do ano passado. Outros afirmam que ficarão satisfeitos se a receita do mês empatar com a do ano passado.
O desconto do tradicional saldão de janeiro é proporcional ao giro dos produtos, conforme explica o vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marco Antônio Gaspar. “Se o modelo girou muito, se a aceitação do consumidor foi boa, o desconto é menor. E aqueles que ficaram parados no estoque têm abatimento bem maior. É a lei da oferta e da procura”, justifica.
A Monnalisa, loja infantil italiana localizada em Lourdes, abriu as portas no primeiro dia útil do ano com descontos de até 40%. As peças que têm maior giro, como vestidos e casacos, recebem 20% de abatimento. “Os produtos mais desejados acabam antes, nem chegam à liquidação. Mas aquelas que têm giro menor têm ótimos preços”, diz o diretor de operações da marca no Brasil, Felipe Chaves. Ele ressalta que a marca passa ao largo da crise. No segundo semestre de 2016, por exemplo, houve um incremento de 25% sobre igual período de 2015. “Apesar do bom resultado da loja, janeiro é sempre um mês mais fraco, devido às férias escolares. As promoções ajudam a aquecer as vendas e fortalecer o caixa”, afirma.
Na Água Fresca Lingerie, as coleções passadas terão descontos de até 50%, segundo a gerente de marketing, Tatiana Redig. Depois de encerrar dezembro com faturamento ligeiramente maior do que 2015, ela prevê aumento de vendas em janeiro frente ao mesmo mês do ano passado. “É uma época que todo mundo viaja e compra lingerie para levar. E muita gente está comprando agora as peças do Carnaval”, diz.
No dia 16 começa a liquidação da Fab, loja de roupas femininas com cinco unidades em Belo Horizonte. Os descontos chegam a 50% e são uma oportunidade para atrair clientes e movimentar a loja em uma época menos aquecida, segundo o proprietário da marca, Fábio Hong. “Além das pessoas que esperam pela promoção, temos aquelas que passam pelas lojas e são fisgadas pelos descontos”, afirma o empresário. O início da promoção foi pensado com critério. Hong explica que espera as trocas de Natal, que também são uma chance para vender mais, para começar a temporada de saldões.
O raciocínio é o mesmo na Manie, loja multimarcas com duas unidades em Belo Horizonte. A proprietária, Andreza Gontijo, marcou para dia 5 de janeiro o início das promoções. “Esperamos as pessoas fazerem as trocas de Natal”, justifica. “As pessoas estão procurando por promoções”, diz Andreza.
Gerente do Procon alerta para o risco de endividamento com a temporada de promoções
Apesar de todas as tentações dos saldões, o gerente do Procon Assembleia, Gilberto Souza, chama a atenção para a capacidade de pagamento de quem faz a compra. “A pessoa não deve se endividar para levar para casa algo que não é de extrema necessidade. Antes de saber se a pessoa quer comprar, ela precisa saber se precisa dessa compra”, alerta.
O especialista destaca que as campanhas excessivas acabam impondo a compra ao consumidor. “As pessoas acham que têm que comprar na Black Friday e nos períodos de saldão. Mas elas não são obrigadas a levar nada para a casa”, ressalta.
Os saldões, diz Souza, são ideais para quem tem dinheiro no momento e está acompanhando os preços do produto que tem interesse. “Se a pessoa está acompanhando, ela não vai comprar nada mais caro”, diz.
Trocas
As trocas são comuns no comércio, mas não são obrigatórias. “Apenas quando o produto tem algum defeito. Neste caso, o fornecedor tem 30 dias para solucionar o problema. Passado o prazo, o consumidor tem direito a um produto novo ou ao dinheiro de volta, pois trata-se de quebra de contrato”, explica o gerente do Procon. Por isso, ele destaca que é necessário conhecer as regras da loja antes de comprar. Não depois.
Outra dica é pesquisar antes de levar o produto para a casa. Souza lembra que vários sites de compras possuem histórico de preços dos produtos. “Se a promoção for falsa e o cliente descobrir depois que comprou, ele pode recorrer à justiça, pois trata-se de uma propaganda enganosa. Mas provar não é tarefa fácil”, alerta o gerente do Procon.Editoria de Arte
Com recessão, resultado igual ao de 2015 satisfaz comerciante
A liquidação na Urby Store, loja de roupas street ware, começou no fim do ano passado. Mas é em janeiro que o saldão ganha forças, com forte divulgação. O proprietário, Carlos Roberto Moreira, explica que o foco no mês são os jovens que viajarão. “As pessoas levaram o presente para casa. Agora, voltam para comprar bermudas, regatas e peças mais frescas para as férias”, ressalta o empresário. Os descontos na loja chegam a 70%.
Moreira afirma que os clientes aguardam o período de promoções. No entanto, devido à crise atravessada pelo país no ano passado, ele não acredita que as vendas de janeiro ultrapassem as de 2015. “Ficarei satisfeito se o resultado for semelhante”, afirma.
Móveis
Produtos para a casa também entram em promoção em janeiro. Na Líder Interiores, os descontos chegam a 60% em produtos de pronta entrega e peças de exposição. O gerente de marketing da empresa, Tiago Nogueira, espera alcançar o faturamento de 2015. “Desenvolvemos uma linha com apelo de design e preço. Ela também entrará em promoção, com preços muito atrativos”, destaca.