Para CDL/BH, ciclo de aperto monetário já se mostrou ineficiente e pode impactar ainda mais economias baseadas em consumo e serviços
A terceira manutenção consecutiva da taxa Selic aumentou a preocupação do setor de comércio e serviços da capital mineira. Na avaliação da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), a permanência da taxa básica de juros do país em 15% ao ano revela que o ciclo de aperto monetário não tem sido eficiente para convergir a inflação para a meta de 3% anuais. A análise da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo é diferente. Para a FecomercioSP, diante do cenário econômico, o comitê não tinha escolha senão manter a taxa de juros no patamar atual.
“Esse ciclo de aperto monetário iniciou no fim de 2024 e chegamos ao maior patamar da taxa em 19 anos. Os reflexos no consumo à médio e longo prazo são negativos, bem como a gestão e a negociação do crédito”, destaca o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva.
Para o dirigente, ainda que a inflação venha declinando e apresentando certa estabilidade nos preços, o cenário não é o ideal para economias que dependem em sua maior parte do comércio, como é o caso de Belo Horizonte.
“A Selic influencia desde o comportamento dos consumidores até as decisões de investimento das empresas. Em uma economia ancorada no consumo e na prestação de serviços, como é a nossa, é algo arriscado permanecer em um patamar elevado por muito tempo, pois desestimula a compra e retrai os investimentos”, pondera Souza e Silva.
Para respaldar sua posição, a FecomercioSP destaca que a inflação de serviços está pressionada (6,14% no acumulado de 12 meses até setembro) pelo aquecimento do mercado de trabalho, o que, por consequência, eleva a renda média das famílias, estimulando o consumo. O índice geral (IPCA) caiu para 5,17% no intervalo de um ano, mas também permanece acima do teto da meta, de 4,5%.
Além disso, a capacidade instalada da indústria, segundo a entidade, está acima da média histórica: em setembro, ela ficou em 81%, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), para quem a decisão do Copom “sufoca a economia e isola Brasil no contexto internacional de juros reais”.
Segundo a FecomercioSP, a economia brasileira está “rodando perto do limite”, porque, nesse nível, qualquer aumento de demanda se transforma em inflação, e não em crescimento. Nota divulgada pela entidade logo após a decisão do Copom desta quarta-feira ressalta também a “política fiscal incerta”, que impediria o corte na Selic neste momento.
“Cortar os juros agora seria bastante tentador, mas perigoso. Ainda que a inflação esteja caindo, o núcleo do fenômeno segue elevado, além de todas as incertezas da conjuntura. Se não foi uma decisão fácil — juros altos pesam no orçamento das famílias, travam a atividade econômica e pesam o crédito —, por outro lado é apenas dessa forma que o Banco Central conseguirá colocar os preços nos trilhos novamente, mantendo-os dentro do intervalo da meta no futuro próximo. Essa é a prioridade agora”.
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