(Valter Campanato/ABr)
BRASÍLIA - O congelamento de preços na Argentina ocorre no momento em que as centrais sindicais se preparam para negociar com o governo de Cristina Kirchner reajustes salariais, que são baseados no índice de inflação do ano. Para analistas, o índice de inflação oficial, divulgado pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), é manipulado pelo governo, e o congelamento é uma estratégia para criar a percepção de inflação mais baixa.
A inflação oficial é motivo de polêmica na Argentina desde 2007. Este ano, o governo trocou o comando do Indec e vieram à tona críticas de oposicionistas e funcionários do instituto que dizem que há manipulação dos números. O governo, porém, nega as acusações.
Os principais sindicatos da Argentina informaram que pedirão ajustes salariais muito acima da inflação calculada pelo governo de Kirchner, que foi 10,8% em 2012. "Concordamos com a sugestão do governo de negociar o aumento salarial pelo prazo de um ano, mas levando em conta a inflação do carrinho de supermercado e do nosso próprio índice de preços", disse Antonio Caló, da União Operária Metalúrgica (UOM), que estima que a inflação de 2012 foi 25%.
Para ele, "somente o congelamento de preços pelo menos por um ano" poderia servir para "conter as demandas salariais". Anteontem (5), o secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), Hugo Moyano, que adota uma linha de oposição ao governo, informou que os sindicatos da agremiação pedirão ajustes de "30% porque a inflação está meio descontrolada".
Segundo Moyano, o governo decidiu lançar o congelamento de preços "como manobra para colocar um teto nas reivindicações salariais". O economista Matias Carugati, da consultoria Management&Fit, disse que a "estratégia de congelamento de preços e salários" precisa, primeiro, ter base na "confiança".
"O congelamento para frear a inflação só serve se é acompanhado por uma mudança confiável na política econômica para torná-la consistente. Acho que esse não é o caso argentino hoje [atualmente]. Até o momento, os sindicalistas não moderaram seus pedidos salariais depois do anúncio do congelamento", disse Carugati.
"A crise no setor de construção, no setor de compra e venda de imóveis e a inflação, palavra tabu para o governo, fazem parte dos motivos da desconfiança dos argentinos, o que reflete na alta do dólar no paralelo", acrescentou o economista.
*Com BBC Brasil