O crescimento da China nas últimas décadas foi turbinado por uma enorme mobilização de capital, canalizado para investimentos em infraestrutura, bens de capital e educação. Agora, os problemas da economia chinesa estão ligados a uma mudança desse modelo de mobilização para outro, de aumento da eficiência do capital, desafio que os chineses conseguirão vencer. A análise foi feita nesta quinta-feira por Arthur Kroeber, sócio da consultoria GKDragonomics e especialista em economia chinesa.
"No passado, a China sempre deu um jeito de encontrar um caminho para vencer seus desafios. Acredito que os chineses farão isso de novo", afirmou Kroeber, em palestra promovida no Rio pelo Centro Empresarial Brasil-China (CEBC).
O especialista citou outros momentos em que analistas externos duvidaram da capacidade chinesa em vencer desafios, mas acabaram surpreendidos: a crise política provocada pelo massacre na Praça da Paz Celestial, em 1989; a crise financeira na Ásia, nos anos 1990; e a crise internacional de 2008.
Segundo Kroeber, a mudança de modelo na China passa por outro foco da economia: do investimento para o consumo. Isso fará o crescimento econômico desacelerar de 11%, na média da primeira década do século 21, para 7% nesta década. O novo patamar de crescimento potencial não é um problema, porém, porque a economia chinesa é muito maior hoje. Mas, mesmo para atingir 7% de crescimento, será preciso fazer reformas estruturais.
"As ferramentas usadas antes para manejar os ciclos econômicos, como investimentos públicos e expansão do crédito, não funcionarão mais e obrigarão o novo governo chinês a fazer as reformas", disse Kroeber.
As mudanças terão impacto na demanda chinesa por matérias-primas, porque o crescimento dos investimentos será menor, mas não será drástico, pois o nível de investimentos seguirá elevado. Kroeber deu a construção civil habitacional como exemplo: embora muitos analistas vejam risco de bolhas no mercado imobiliário, há déficit de moradias nas cidades da China.
Por isso, a construção poderá seguir crescendo pelos próximos 15 anos. "Isso é importante porque a construção é um dos maiores demandantes de aço", lembrou Kroeber.
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