Crise política paralisa o governo, derruba a confiança e freia investimentos

Janaína Oliveira e Raul Mariano - Hoje em Dia
06/03/2016 às 07:19.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:41
 (Frederico Haikal 02/02/2011)

(Frederico Haikal 02/02/2011)

O turbilhão no meio político, com a divulgação da delação premiada do senador Delcídio do Amaral pela revista IstoÉ e a convocação do ex-presidente Lula para depor como investigado na operação “Lava Jato”, sacudiu o Palácio do Planalto como um terremoto. E enquanto o governo sofre um abalo atrás do outro, a paralisia reina no campo da economia, sem as ações necessárias e concretas para fazer a roda do desenvolvimento do país girar.

À espera de uma definição no cenário político, a economia brasileira sangra. É essa a avaliação do professor do Ibmec Reginaldo Nogueira. Para ele, somente com a realização do ajuste fiscal o quadro econômico recessivo poderá se reverter. “O caminho é o corte de gastos, mas isso passa por mudanças constitucionais que envolvem alterações nos gastos obrigatórios. Isso depende de uma maioria qualificada na Câmara e no Senado. O que temos, no entanto, é um governo com reprovação de 60% da população, que não consegue conversar com a sociedade e não apresenta sequer uma agenda”, avalia.

As evidências da turbulência política dos últimos dias também são percebidas no comportamento do mercado financeiro.

“Sempre que a situação política piora, o mercado financeiro reconsidera as projeções estabelecidas para o início da recuperação econômica. É como se o mercado estivesse vislumbrando uma melhoria antes de 2018, independentemente de qual seja ela”, explica Nogueira.

Para o presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Lincoln Gonçalves Fernandes, a economia anda a reboque do imbróglio político, em que as incertezas reinam e o ajuste fiscal segue estático.

“Para uma reversão das expectativas ruins e a criação de um ambiente propício para negociar e implantar as medidas emergenciais ao país, a tarefa número 1 deve ser a resolução da crise política”, diz. Fernandes lembra que toda vez em que há uma notícia negativa para a presidente Dilma, PT e aliados, o mercado se anima. A Bolsa se fortalece, as ações sobem e o dólar cai.

“Esse jogo é ruim e vai seguir indefinidamente assim até que se tenha uma definição. Ou a Dilma fica e governa, ou sai, apesar de o impeachment ser um processo muito traumático. Mas é preciso uma solução rápida”, afirma. Ele lembra que o PIB despencou 3,8% no ano passado e, se nada for feito com urgência, o filme de terror pode se repetir em 2016.

Desgaste vai além de partidos e indicadores econômicos

Na avaliação do especialista em geopolítica e doutor em geografia pela PUC Minas Ricardo Corniglion, a crise vivida pelo país é política, econômica e, sobretudo, moral.

Para ele, os questionamentos sobre a idoneidade das principais lideranças brasileiras geram um descrédito completo no país, o que acaba refletindo nos indicadores de desenvolvimento.

“Já há desemprego, alta de tributos, redução de renda, inflação corroendo salários. Tudo isso acaba repercutindo no próprio espírito da nação. Não acredito que o impeachment vá sair do papel, mas o PT sairá desgastado dessa história e dificilmente conseguirá se manter no poder após 2018”, avalia.

Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Roberto Simões, a economia está se esvaziando e, a continuar a turbulência política, chegará ao fundo do poço.

“Ou a Dilma sai ou fica, mas é preciso dar um rumo para o Brasil. Do que jeito que está, com desemprego, inflação, fechamento de empresas e diminuição de renda, daqui a pouco estaremos pior do que a Venezuela. Aliás, até o Paraguai está dando show no nosso país”, diz.

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