Os números da produção industrial de setembro divulgados nesta quinta-feira revelam um cenário ruim e incerto para o setor nos próximos meses, na opinião da economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria Integrada. Após avaliar os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a consultoria prevê que a produção da industrial poderá cair 2% ou mais no fim deste ano. "Há o risco de o recuo ser ainda maior, já que a queda na produção industrial foi generalizada", afirmou a economista em entrevista à Agência Estado.
O IBGE divulgou que a produção industrial caiu 1% na margem e teve retração de 3,8% em setembro ante igual mês de 2011, taxas piores do que as calculadas pela Tendências Consultoria, que projetava quedas de 0,40% e 3,10%, respectivamente. Dos 27 setores pesquisados pelo IBGE, 16 tiveram queda.
Para Alessandra, os dados de setembro confirmam que os incentivos adotados pelo governo, como desonerações fiscais e desvalorização cambial, trazem resultados pontuais e de curto prazo, não resolvendo questões estruturais que influenciam no desempenho da produção nacional.
Pelos cálculos da consultoria, a produção industrial deverá ter um crescimento médio de 1,1% de outubro até dezembro, porque ainda refletirá os efeitos dos estímulos econômicos. "Isso contando que ainda tem algum impacto (das medidas) principalmente sobre o consumo. Para cair 2% (fim do ano), tem que crescer 1,1% (média). É um quadro relativamente bom para (esses meses), mas ainda é crítico para o ano", disse a economista.
Questionada sobre quais medidas poderiam ter eficácia para um crescimento mais sustentável da economia, ela declarou que o desafio é "estrutural". "Não sai nada de muito relevante do governo para incentivar essa variável, que é o investimento e é o que está faltando. Não dá para esperar uma recuperação em um ritmo bom, mas apenas estável. Essa política é de curto prazo."
A economista lembra que, recentemente, a Tendências alterou as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). "Fizemos algumas alterações na distribuição trimestral. Neste ano, a estimativa permanece em 1,6%", informou. Em 2011, o PIB avançou 2,7%.
Segundo Alessandra, a previsão do PIB no terceiro trimestre passou de expansão de 1,10% para 1,50%, diante da expectativa de que as medidas de estímulo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis e eletrodomésticos da chamada linha-branca, continuarão tendo efeitos benéficos sobre os números.
Para o quarto trimestre, a expectativa da consultoria é de que a economia cresça 0,7%, contra estimativa anterior de 0,9%. "Ainda terá algum impacto (das medidas), mas vai perdendo cada vez mais força", comentou. Para 2013, o PIB deverá avançar 3,6%, depois de uma projeção anterior de 3,8%.
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