Longe de provocar o mesmo efeito verificado no mercado de automóveis zero quilômetro, a desoneração do Imposto Para Produtos Industrializados (IPI) dificultou a vida dos empresários que vendem carro de segunda mão. Os preços recuaram assim como ocorreu entre carros zero quilômetro, mas as vendas dos usados tiveram uma queda de 0,9% no bimestre de junho e julho em relação ao mesmo período de 2011, quando não havia o benefício tributário, enquanto os emplacamentos de automóveis zero quilômetro cresceram 26,4%. Os empresários do ramo também reclamam da restrição ao crédito para a compra do seminovo, situação que levou a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) a pedir ao governo federal linhas de financiamento especiais para a compra de carros usados.
A diretora da Marte Veículos, Cleide Cossi, há 32 anos no segmento de seminovos, diz que a incerteza do mercado e a falta de preparo de parte dos empresários já levou a um fechamento de um número considerável de empresas. "Há lojas de veículos seminovos encerrando as atividades num volume que nos parece bem significativo. Isso é preocupante", afirma.
De acordo com ela, quando o IPI foi reduzido para o veículo zero quilômetro, os estoques das lojas de carros usados perderam valor. "Os veículos do estoque foram comprados a um valor acima do preço que foram vendidos. Foi uma queda semelhante ao que ocorreu em 2008 e 2009", diz. "Dois grandes baques em pouco tempo."
A prorrogação da validade do benefício pelo IPI de 31 de agosto para o final de outubro pode alongar o período de dificuldades para os carros usados. O economista da LCA Consultores Rodrigo Nishida explica que um benefício fiscal que alavanque as vendas de veículos zero quilômetro afeta diretamente o desempenho dos seminovos.
"No período de IPI reduzido, há um claro aumento das vendas para novos e queda para usados", diz. De acordo com ele, o recuo nos preços do automóvel 0 km posicionou o bem como uma opção de escolha daquele consumidor que só tinha condições para adquirir um seminovo. "E entre um e outro, a preferência é pelo carro novo", afirma.
Na comparação do resultado acumulado no bimestre de junho e julho sobre a mesma base de comparação de 2011, as vendas de veículos leves novos cresceram 20,4%, mas a negociação de usados avançou apenas 1,5%. Nishida lembra que a mesma situação ocorreu em 2009, quando, para estimular o consumo e tirar a indústria do buraco provocado pela crise financeira internacional, o governo cortou a alíquota de IPI para o comércio de veículos. Naquele ano, segundo o economista, o segmento de automóveis e comerciais leves teve um crescimento de 12,6% nos licenciamentos em comparação a 2008. Nesse mesmo período, as vendas de usados caíram 2,6%. "Isso ilustra como os períodos de IPI reduzido afetam os dois mercados", afirma.
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