Empresas economizam com funcionário que mora perto

Tatiana Moraes - Hoje em Dia
28/09/2014 às 08:21.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:23
 (Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

(Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

Que morar perto do emprego melhora a qualidade de vida dos trabalhadores não é novidade para ninguém. Mas, segundo o site Emprego Ligado, especializado em mão de obra operacional, o que é facilidade para o funcionário também é sinônimo de economia de tempo e dinheiro para a companhia. E não é só o custo do transporte que pesa no bolso do empresário. Conforme pesquisa realizada pelo site, 36,7% dos empregados operacionais que trabalham longe de casa acabam desistindo do trabalho. E, para repor o posto, o empregador gasta até sete vezes o salário da pessoa que pediu demissão.   O gasto diz respeito aos custos da demissão em si, ao investimento necessário para recrutar outra pessoa e até mesmo à perda da produtividade até que o outro funcionário esteja apto a assumir a função.   “Não há uma fórmula de sucesso. Cada empresa tenta adotar práticas para reter seus funcionários e evitar gastos e tempo com novas contratações e treinamento. O que conseguimos entender é que o profissional que trabalha perto de casa é mais feliz, rende mais e tem menor propensão a sair da vaga”, afirma o CEO da Emprego Ligado, Jacob Rosenbloom.   Realocação   Com seis unidades na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a rede supermercadista Verdemar desenvolveu uma estratégia simples e eficaz para reduzir o turnover (rotatividade de pessoal) e, ainda, desembolsar menos no custeio dos funcionários.   A partir do banco de dados, os endereços dos 3 mil funcionários foram analisados e eles foram realocados, quando possível, de acordo com a loja mais próxima da residência.   De acordo com o superintendente de Recursos Humanos do supermercado, Leandro Souza de Pinho, cerca de 10% dos funcionários mudaram de loja. “A redução no investimento destinado ao transporte desses funcionários foi grande. Além disso, nossos empregados trabalham mais dispostos. Ninguém quer ficar muito tempo dentro de um ônibus ou dentro de um metrô”, comenta Pinho.   Ônibus fretado   A empresa especializada em materiais para reformas e acabamentos Bel Lar adotou uma estratégia diferente para reduzir a rotatividade de pessoal e o custeio com os empregados. A Bel Lar possui uma unidade no Carlos Prates, uma no Santa Lúcia e um centro de distribuição (CD) em Betim.   Nesta terceira, a rotatividade, de acordo com o gerente administrativo da empresa, Daniel, chegava a níveis altos. “Os funcionários do centro de distribuição são, em sua maioria, mão de obra pesada. O turnover era elevado, pois nem sempre encontrávamos pessoal em Betim e os funcionários acabavam saindo. Precisávamos mudar esse quadro”, diz.    A solução foi fretar um ônibus. Diariamente, um veículo passa por importantes pontos de Belo Horizonte e Contagem, principalmente na avenida Amazonas, pegando os 42 funcionários da empresa. “Assim, as pessoas pegam apenas um ônibus para ir trabalhar. Ou, às vezes, nenhum”, comenta o gerente administrativo.   Satisfação pode evitar abandono de emprego   Depois de três anos, o trajeto percorrido por Thaís Martins Fernandes para chegar ao trabalho mudou. Nesta semana, ela trocou as duas horas que passava dentro de três ônibus todas as manhãs para chegar ao antigo trabalho, no Belvedere, por um percurso de 30 minutos até o novo emprego, perto de casa, na região de Venda Nova.   O salário compensou. Thaís, no entanto, afirma que o cansaço sentido era tanto que, mesmo se o rendimento fosse inferior, ela pensaria na possibilidade de ganhar menos para ter uma qualidade de vida melhor.   “Demorei a mudar porque o ambiente do antigo trabalho era muito bom. Mas saía muito cedo de casa, às 5h. Era muito cansativo”, afirma.   De acordo com o coordenador do curso de MBA em Gestão de Negócio em Comércio e Vendas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fernando Marchesini, as pessoas que possuem entre 25 e 35 anos de idade mudarão, em média, sete vezes de emprego até se aposentarem. Isso porque querem sempre algo melhor.   Foco no funcionário   Conforme explica o especialista, hoje não existe “fidelidade”, seja de marca ou de emprego. Existe “preferência”. “As empresas se importam muito com os clientes externos, mas muitas vezes se esquecem do público interno, que são os empregados, os terceirizados e os fornecedores. Os empregados, principalmente, são os mais prejudicados. E, quando eles estão insatisfeitos, basta uma proposta um pouco melhor para mudarem de emprego”, afirma Marchesini.   O “investimento” buscado pelo funcionário e pelo qual a empresa se recusa em muitos casos a oferecer, ainda de acordo com ele, varia. Às vezes, trata-se de um salário compatível com o mercado, ou de benefícios melhores. Em outros, de algo mais simples, como reconhecimento.   “E empregado feliz resulta em lucro. Isso é certo. Quando as empresas perceberem que o capital intelectual é realmente o bem mais precioso que elas têm, muitas terão uma guinada nos negócios que não pensavam ser possível antes”, garante.   Números mundiais   A insatisfação do funcionário brasileiro é o motivo pelo qual o turnover no país é tão alto. Segundo informações do site Emprego Legal, especializado em empregos operacionais, a rotatividade de pessoal foi de 43,1% em 2012. Nos Estados Unidos, no mesmo ano a taxa foi de 15%, contra 12% na Alemanha e 10% no Japão.   Ainda de acordo com o site, o clima da empresa pesa para que 33,3% dos empregados se desliguem. Salário baixo responde por 30% dos pedidos de demissões, e benefícios insuficientes, por 13,3%.

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