(Carlos Rhienck)
Dois itens que pesam no bolso do consumidor também vêm tirando o sono dos empresários: a alimentação fora de casa e o transporte. No ritmo da alta dos preços, sobem os desembolsos das empresas com o fornecimento obrigatório do vale transporte e com subsídio – não obrigatório, mas previsto num grande número de convenções coletivas –, do tíquete alimentação.
Grandes vilões da inflação, os alimentos foram o item que mais pressionou o custo de vida nos últimos 12 meses. E, a reboque, a alimentação fora de casa saltou 10,13% no mesmo período, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Já as passagens de ônibus deverão ficar 7,5% mais caras, nos próximos dias, em Belo Horizonte. O aumento, anunciado pela Prefeitura e previsto para vigorar desde o último domingo, foi adiado por força de liminar concedida ao Ministério Público, mas por apenas 30 dias.
No caso do transporte, pela legislação a empresa é obrigada a custear no mínimo 94% do valor total das passagens.
Contas
Vice presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), o empresário Marco Antônio Gaspar já fez as contas. Dono de duas unidades da Papelaria Brasilusa, na Savassi, com um total de 18 funcionários, gastará R$ 21 a mais por mês com cada um deles quando o reajuste dos coletivos começar a valer.
Hoje, um funcionário que precisa de duas conduções para chegar ao trabalho tem descontado no salário R$ 48. O patrão paga os R$ 227 restantes. Com o aumento, a despesa passará para R$ 248.
“A quantia corresponde a 30% do rendimento do trabalhador, um absurdo”, critica Gaspar.
Assim como aluguel, energia e pessoal, o gasto com transporte faz parte dos custos fixos das empresas. E o aumento acaba sendo repassado para o consumidor. “A empresa não pode ter prejuízo. Então quem paga no final das contas é a sociedade”, afirma o comerciante.
Com mais de 30 empregados, entre loja física, virtual e escritório, o proprietário da Brinkel, Altair Rezende, também reclama da carga pesada, para ele e para seus funcionários.
“Sobreviver exige uma ginástica. O custo de cada empregado para a empresa é de 1,6 a 2 vezes o salário pago. E agora ainda querem aumentar a passagem sem oferecer o mínimo de conforto e qualidade. Muitos dos meus funcionários reclamam que, em algumas linhas, os ônibus só passam de uma em uma hora. Não tem lógica”, reclama.
Para a advogada da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio), Sandra Lúcia Pinto, o alto custo do transporte coletivo é um impedimento para a contratação de empregados que moram nos municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Custos adicionais ultrapassam salário pago
Cálculo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que o custo de um funcionário do setor pode chegar a 2,83 vezes o salário assinado na carteira. O cálculo se aplica ao trabalhador com um vínculo empregatício de 12 meses, e cai para 2,55 vezes quando esse tempo alcança cinco anos.
Na soma, entram os inúmeros encargos e tributos que recaem sobre folha de pagamento, mas também os gastos com transporte, 94% cobertos pelos patrões, conforme a lei, e com alimentação, muitas vezes acordados em convenções coletivas. “Até pela localização, muitas indústrias preferem montar um refeitório e fornecer almoço para o trabalhador, descontando em folha apenas uma pequena parcela. Com o custo dos alimentos nas alturas, é claro que a despesa aumenta”, diz o presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Osmani Teixeira de Abreu.
Outro benefício comum oferecido pelas indústrias é o transporte particular gratuito.
“Como o coletivo é deficiente, grande parte das indústrias contrata transportadoras para levar os empregados até a fábrica. É bom para o funcionário e para a empresa, já que assim ele não chega exausto ou atrasado”, afirma.
Segundo Osmani, ainda pressiona o caixa das empresas uma série de custos adicionais que podem variar do fornecimento de cesta básica ao auxílio funerário.