Difundidos como alternativa às constantes ameaças de apagão, os projetos de cogeração de energia com bagaço de cana, que receberam bilionários investimentos entre 2003 e 2008, ficaram muito abaixo do potencial que poderia ser jogado na rede para aliviar o risco de falta de energia nas principais regiões do Centro-Sul do País.
Com as usinas de cana atoladas em uma crise desde 2008, desencadeada pela turbulência global e agravada pela falta de competitividade do setor, poucos projetos de cogeração de energia saíram do papel nos últimos seis anos. Especialistas do setor estimam que, entre 2003 e 2008, as indústrias sucroalcooleiras investiram cerca de R$ 15 bilhões para comercializar energia de biomassa excedente para a rede.
"A política do governo de subsidiar o preço da gasolina não só agravou a crise das usinas, como também travou os projetos em cogeração", afirmou Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Segundo Pires, a falta de políticas públicas para o setor deixou para trás diversos projetos, incluindo os de cogeração. "O bagaço tem um grande potencial como gerador de energia, mas a decisão do governo de misturar diversas fontes de energia, como eólicas, por exemplo, tira a competitividade das usinas de cana."
Procurado, o Ministério de Minas e Energia não sinalizou mudanças no curto prazo para estímulos ao setor em leilões.
Os preços oferecidos nos leilões de energia de biomassa desestimularam os negócios, afirmam consultores e usinas. Hoje, se contam nos dedos de uma mão quantas usinas se beneficiaram da atual cotação, em torno de R$ 822 para a energia negociada no mercado livre. Uma boa parte dos contratos firmados gira em torno de R$ 120 a R$ 150 MW/h.
"Se incentivadas, várias usinas de biomassa do Sudeste e Centro-Oeste do País poderiam suprir parte dessa demanda. Não haveria a necessidade de trazer blocos de energia da Região Norte", disse Pires.
Autossuficientes em cogeração de energia limpa, hoje cerca de 170 das 400 usinas de açúcar e etanol em operação no Centro-Sul do Brasil comercializam seu excedente no mercado, um total de 1.720 megawatts médios, ou 3,3% do consumo nacional de energia. "É o suficiente para abastecer até nove cidades do porte de Ribeirão Preto (com 650 mil habitantes)", disse Zilmar José de Souza, consultor de bioeletricidade da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica).
"O potencial com os investimentos já feitos poderia atingir 3.400 MW/médios", afirmou Souza. A capacidade instalada das usinas é de 9.339 MW, incluindo consumo próprio, o equivalente a cerca de 70% da Usina de Itaipu. Vale lembrar que a energia produzida com o bagaço é sazonal, de abril a dezembro, período de colheita da cana e também de estiagem no País. Até 2021, a capacidade instalada das usinas poderia atingir 22 mil MW.
Investimentos
"Bastariam pequenos investimentos em turbinas nas caldeiras já instaladas hoje para dobrar a capacidade atual", afirmou José Luiz Olivério, vice-presidente de negócios da Dedini, com sede em Piracicaba (SP), uma das maiores indústrias de base voltadas para o setor.
Desde 2003, foram instaladas 117 novas usinas de açúcar e etanol no Centro-Sul, das quais 80% delas foram projetadas para produzir energia, não somente para consumo próprio. "Desses projetos novos, apenas 35% deles foram implementados", afirmou Olivério.
Segundo ele, cerca de 180 usinas instaladas em São Paulo teriam condições de negociar energia excedente no mercado. "Hoje, apenas 20% fazem isso."
Os primeiros projetos de cogeração tiveram início no fim dos anos 80. "Os projetos ganharam fôlego a partir de 2005, com os leilões do governo federal para a venda de energia de longo prazo", disse Souza. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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