JECEABA – “Jeceaba e VSB. Uma parceria de sucesso em prol do desenvolvimento sustentável”. O quadro com esses dizeres pendurado na prefeitura da cidade contrasta com a sede antiga, pequena e com pó nas madeiras comidas por carunchos. O que mais combinaria com essa mensagem é o centro administrativo, de 7 mil metros quadrados, que começou a ser construído em 2011. Foram gastos R$ 12 milhões nas obras, paradas em 2013 e que permanecem em compasso de espera, da mesma forma que o desenvolvimento estampado nos letreiros.
“Eu brinco que saio daqui com a cabeça mais cheia de carunchos do que de problemas”, comenta o prefeito Fábio Vasconcelos (PDT). A sede, que fica do lado de um córrego, sofre também em períodos chuvosos, com enchentes.
Enquanto isso, um centro administrativo, planejado aos moldes da Cidade Administrativa do governo do Estado, está em ruínas em outro ponto da cidade. Um projeto arrojado, com construção em formato da letra J, deveria abrigar o gabinete do prefeito e todo o secretariado. No papel, o espaço tem luxos como banheiro de mármore branco para uso do prefeito. Mas o que se vê é um esqueleto abandonado, com uma área verde usada apenas para gado pastar, literalmente.
Segundo Vasconcelos, ainda faltam cerca de R$ 5 milhões para conclusão da obra. Recurso que a prefeitura não tem em caixa. Existe ainda o projeto de construção do Centro de Referência Ambiental, um espaço que serviria para a realização de convenções. O município já gastou R$ 280 mil só para fazer o projeto, que não deverá ser viabilizado tão cedo. “Temos outras prioridades no momento e pouco recurso”, afirma o prefeito.
Pesadelo
O sonho de desenvolvimento imediato de Jeceaba, pautado no crescimento da VSB, virou pesadelo por várias questões. A primeira é a falta de demanda interna. Quando implantado o complexo siderúrgico, a ideia era atender, principalmente, o setor petrolífero com os tubos de aço sem costura feitos na unidade. No Brasil, o enfoque era na Petrobras e na promessa do pré-sal. Mas, com a redução dos investimentos na estatal em função da crise econômica e de credibilidade que vive, esse foi um mercado que se fechou.
Outra explicação está no mercado externo. A indústria siderúrgica sente os impactos de uma menor demanda aliada a uma superoferta do insumo, como lembra o presidente do Conselho Empresarial de Mineração e Siderurgia da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), José Mendo Mizael de Souza.
A situação ficou tão complicada para a empresa que, ano passado, ela chegou a suspender o contrato de trabalho de 1,4 mil trabalhadores por três meses. O baque financeiro para o grupo foi enorme. Em 2015, a empresa apresentou um prejuízo de R$ 155,6 milhões frente a 2014. Em nota, a empresa justificou que está com a produção ajustada à demanda atual de mercado.
O esperado é que a situação melhore na cidade nos próximos anos, vez que a Vallourec vai transferir a produção de aço, atualmente no Barreiro, em Belo Horizonte, para a unidade de Jeceaba, até 2018. Parte dos trabalhadores vai ser transferida para a cidade e deverá movimentar a economia local.
Hoje em Dia publica nesta segunda-feira (13) matéria sobre as perspectivas de negócios da Vallourec em Jeceaba.
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Até mesmo as cidades vizinhas a Jeceaba esperavam ter ganhos com a chegada da Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil (VSB) na região. Mas, elas também não viram resultados práticos ainda.
Em São Brás do Suaçuí, cidade distante apenas 14 quilômetros de Jeceaba, vários empresários chegaram a fazer investimentos. É o caso de Fábio Gomes Coelho, que construiu o Hotel Mirante e até o momento só teve prejuízos. “Na realidade, o que nós fizemos foi acreditar que haveria uma demanda. E na realidade não teve. Não tivemos retorno do investimento e trabalhamos com um déficit mensal”, afirma o empresário.
“Muitas pessoas mudaram aqui para a cidade, chegaram a fazer treinamento para trabalhar e não foram contratadas. Com isso, teve uma valorização imobiliária, e muitos imóveis estão anos fechados por causa disso ”, afirma o prefeito da cidade, Elias Ribeiro de Souza (PRB).
A cidade teria sido prejudicada ainda com a variante construída pela empresa em contrapartida na MGC-383. A estrutura tirou o tráfego dos veículos que seguia no sentido de cidades como São João del Rei e Tiradentes e atrapalhou o comércio local. “Era um público importante para a cidade”, afirma.