O provável adiamento para 2016 do prazo para a obrigatoriedade de instalação de airbags e freios ABS em 100% dos novos automóveis, prevista para janeiro, vai inibir investimentos das fabricantes de autopeças em novas tecnologias. "Quem vai investir se o governo, na calada da noite, muda as regras do jogo?", questiona Besaliel Botelho, presidente da Bosch, uma das maiores fabricantes de componentes da América Latina.
Primeira empresa a produzir freios ABS no Brasil e responsável por 50% das vendas do sistema, a Bosch investiu quase R$ 70 milhões para produzir o equipamento em Campinas (SP), a partir de 2007. "Ampliamos a produção em 2012 para atender à nova demanda e agora estamos com esse mico, assim como outras empresas que investiram em tecnologias de segurança, como o airbag", afirma.
O freio ABS reduz em 20% a 25% o espaço da frenagem e evita o travamento das rodas. Na Europa, onde equipa todos os carros, pesquisas mostram que o número de mortes em acidentes caiu 30%. Ainda não há estudos no Brasil sobre o tema.
No caso do airbag - bolsa que infla e ameniza o impacto da batida -, estudos internacionais indicam que, em acidentes potencialmente fatais, há 51% de chances de os ocupantes sobreviverem se estiverem com cinto e o carro tiver airbag.
Os dois itens passam a ser obrigatórios em todos os carros novos a partir de janeiro. Na quarta-feira, 11, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que pode adiar essa data para 2016. Alega temor de pressão inflacionária em razão do aumento de preços, assim como demissões por causa do fim da produção de modelos sem condições de receber os sistemas, como a Kombi, da Volkswagen, e o Mille, da Fiat.
Para Gerson Burin, do Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi Brasil), "retirar itens de segurança não é uma solução bem-vinda". Segundo ele, "seria como suspender a lei que obriga o uso do cinto de segurança - um grande retrocesso". Prorrogar o prazo de instalação não está em linha com as campanhas para a segurança no trânsito, afirma Burin.
Opcional
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, ressalta que a indústria já fez investimentos necessários e está preparada para equipar praticamente todos os modelos com airbag e ABS, de série ou como opcional. "Caberá ao consumidor a escolha e tenho convicção de que a maioria vai optar pelos dois itens". A Anfavea calcula que os novos itens vão encarecer os carros de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil, mas caberá a cada marca repassar ou não ao consumidor.
Moan concorda com a tese de que, no momento, o importante é a manutenção dos empregos e, por isso, vai apoiar o adiamento no encontro que terá com Mantega na terça-feira, 17. "Essa política é equivocada, pois não justifica tirar a segurança dos carros por causa de uma guerra de preços para vender mais", diz Botelho. Segundo ele, 75% dos veículos novos já são feitos com os dois itens e adiar o que falta também vai resultar em reajustes, pois itens opcionais normalmente são mais caros que aqueles de série. "A escala reduz custos e, com a medida, a produção vai cair e os preços tendem a aumentar."
Para ele, a alternativa seria reduzir impostos. O presidente da Bosch critica ainda a postura do governo num momento em que a indústria é incentivada a investir em novas tecnologias para o programa Inovar-Auto. "Quem vai investir se, da noite para o dia, a regra muda?", questiona. "Esse governo vai fazer o que há muito não se via, que é mexer nas regras no meio do jogo." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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