Dado o atual cenário de recuperação dos preços agropecuários no atacado, a tendência para o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de novembro é de uma taxa mais alta que a de 0,28% registrada em outubro de 2014 e também maior que a de 0,29% de novembro de 2013. A expectativa é do superintendente adjunto de Inflação do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, que, em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, ponderou que o movimento esperado não deve ser de aceleração desenfreada.
"A trajetória dos IGPs (Índices Gerais de Preços) é de aceleração, mas em um ritmo discreto e moderado, porque existem movimentos nos dois sentidos, de alta ou de baixa", comentou Quadros. "A menos que aconteça alguma novidade ou virada, pelo que estamos vendo hoje, com mais produtos saindo do campo negativo, é provável que tenhamos uma taxa de novembro maior do que a de novembro do ano passado", disse.
Nessa semana, a FGV anunciou que o IGP-M de outubro de 2014 superou em 0,08 ponto porcentual a taxa de 0,20% de setembro. A inflação captada pelo indicador geral foi mais intensa que a esperada por economistas do mercado financeiro, já que, no levantamento do AE Projeções com os profissionais, as estimativas eram de um número de 0,10% a 0,25%, com mediana de 0,20%.
"Depois de quatro meses de deflação (de maio a agosto), o IGP-M subiu em setembro e agora está avançando numa velocidade bastante moderada. Ele não saiu da deflação de uma maneira descontrolada ou com vários preços subindo", avaliou Quadros. "Uma taxa de 0,28% é relativamente baixa para um IGP e equivaleria a uma taxa anual de pouco mais de 3%. É um retorno a uma situação mais normal, fora da deflação, que talvez a gente não tenha atingido (plenamente)", acrescentou.
No IGP-M de outubro, o grande destaque ficou com o comportamento do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que capta o comportamento dos preços do atacado e responde por 60% da taxa geral. No período, o IPA subiu 0,23% ante alta de 0,13% em setembro e contou com uma briga de forças entre os preços agropecuários e industriais.
Do lado do IPA Agropecuário, houve avanço de 0,90% contra aumento anterior de 0,10%. Quanto ao IPA Industrial, houve recuo de 0,01% ante elevação de 0,14% em setembro.
Para Salomão Quadros, dentro dos preços agropecuários, o maior destaque de outubro veio do comportamento da parte In Natura, que saiu de uma deflação de 6,39%, em setembro, para uma alta de 0,12% no mês seguinte. Um grande exemplo deste segmento foi o preço do tomate, que saiu de uma deflação de 11,55% para uma elevação de 25,41%.
Além da parte In Natura, itens, como a soja, que possui grande peso nos IGPs, ajudaram a puxar o IPA Agropecuário. No caso específico deste grão, a simples queda menos expressiva, de 3,21% ante recuo anterior de 3,49%, gerou um efeito estatístico de aceleração para a inflação.
Na outra ponta do IPA, os preços industriais serviram como elemento de alívio, especialmente pelo comportamento do segmento de Produtos Alimentícios e Bebidas, cuja alta passou de 1,13% para 0,52% entre setembro e outubro. Tal desaceleração também ajudou a neutralizar o comportamento do minério de ferro, cuja queda, de 4,97%, já foi menos intensa que a de 5,46% de setembro. "A desaceleração da indústria de transformação foi maior do que a aceleração da indústria extrativa e aí o conjunto mais amplo de produtos industriais recuou", disse Quadros.
Para novembro, o representante da FGV espera uma continuidade da recuperação dos preços in natura no IPA, além de um cenário para a soja fora do campo negativo. "Os itens in natura devem estar ainda no ciclo de elevação e também algumas matérias-primas agrícolas podem vir contribuindo mais para a aceleração, mesmo sem subir. E o mesmo pode ser visto para o minério de ferro", comentou, já estendendo a análise para a parte industrial do IPA, que pode ter, como em outubro, elementos compensadores da parte de alimentos processados.
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