FMI reduz a 0,3% aposta de crescimento do Brasil em 2014

Altamiro Silva Junior, enviado especial
07/10/2014 às 11:42.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:30

O Fundo Monetário Internacional (FMI) rebaixou novamente a previsão de crescimento do Brasil para este ano e o próximo. O País deve ter uma das menores taxas de crescimento em 2014 entre os principais países emergentes, avançando 0,3% em 2014, de acordo com projeções divulgadas nesta terça-feira no relatório "Perspectiva Econômica Global".

O Brasil foi o país que teve maior corte nas estimativas entre as principais economias mundiais. Em julho, quando divulgou um relatório com atualização de projeções, o FMI previa que o país fosse avançar 1,3% em 2014. Entre os principais países, o Brasil só deve crescer mais que a Rússia neste ano, com expansão prevista de 0,2%, a Venezuela, que deve encolher 3%, e a Argentina, com previsão de retração de 1,7%.

As previsões do Brasil para 2015 também foram reduzidas. O FMI projeta expansão de 1,4%, abaixo dos 2% que estimava em julho. Desde 2012, os economistas do FMI vêm reduzindo a cada novo relatório as projeções de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do País. O Brasil tem mostrado números sempre piores que o esperado, destaca o documento divulgado nesta terça-feira, 07.

O Brasil vai crescer este ano menos do que a média dos países da América Latina (projeção de expansão de 1,3%), que os mercados emergentes (4,4%) e a economia mundial (3,3%), mostra o relatório do FMI. "Perspectivas incertas e baixo investimento estão pesando na expansão do Brasil", afirma o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, em uma entrevista à imprensa nesta terça-feira. Apesar do corte nas estimativas, o FMI ainda está um pouco mais otimista para o Brasil que a média do mercado financeiro brasileiro, de acordo com o boletim Focus do Banco Central. As previsões foram novamente cortadas esta semana e apontam para alta de 0,24% este ano e 1% em 2015.

Na avaliação do FMI, o fraco crescimento do Brasil é explicado por um conjunto de razões. Infraestrutura deficiente, juros elevados, fraca competitividade e baixa confiança dos agentes. Tudo isso tem contribuído para um fraco ritmo de investimento privado. Pelo lado das famílias, o crédito crescendo menos e um certo esfriamento no mercado de emprego ajudam a contribuir para um baixo nível de consumo.

Para 2015, o FMI espera apenas uma recuperação moderada no Brasil, na medida em que a incerteza política gerada este ano pelas eleições presidenciais vão se dissipando. A inflação deve ficar no topo da meta, reflexo da pressão persistente de preços, em meio a uma infraestrutura deficiente e pressão dos preços administrados. A baixa confiança de empresários e consumidores, aliada à perda de competitividade, devem manter o crescimento brasileiro abaixo do potencial este ano e no próximo, destaca o FMI.

Desemprego

O FMI projeta uma piora da taxa de desemprego do Brasil, que deve terminar este ano em 5,5%, mas subir para 6,1% em 2015. A inflação deve ficar em 6,3% e 5,9%, respectivamente. Já o déficit da conta-corrente em relação ao PIB deve passar de 3,5% este ano para 3,6% no próximo.

Em meio ao crescimento decepcionante do Brasil e outros países da América Latina, ainda persistem riscos de as taxas de expansão do PIB ficarem ainda piores do que o estimado. Um deles é uma rápida elevação dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o que pode gerar estresse no mercado financeiro semelhante ao visto em meados de 2013. Um desaquecimento maior da China pode esfriar ainda mais a atividade em países exportadores para o país asiático. Por fim, uma alta dos preços do petróleo por conta da piora dos conflitos no Oriente Médio também pode ter efeito negativo na região.

Brasil precisa urgente de reformas estruturais. diz FMI

O Brasil e outros países da América Latina precisam enfrentar problemas estruturais, sob o risco de os níveis de investimento privado continuarem fracos e a atividade econômica desaquecida, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao mesmo tempo, o FMI afirma que condições adversas, como inflação no topo da meta e deterioração das contas externas em vários países da região, apontam para um limitado arsenal de medidas dos governos para estimular a atividade. Por isso, o relatório do Fundo fala da necessidade de reformas estruturais urgentes.

A política monetária de alguns bancos centrais da região também está em um dilema, destaca o relatório, sem citar nominalmente os países. A autoridade monetária precisa lidar com pressões inflacionárias persistentes ao mesmo tempo em que a atividade econômica está enfraquecida, destaca o FMI. A flexibilidade do câmbio permanece essencial para facilitar os ajustes externos.

Pelo lado fiscal, um aumento de gastos públicos é ainda mais complicado em países com deterioração das finanças públicas, afirma o FMI no relatório, sem citar nomes. "Alcançar as metas (fiscais) estabelecidas dentro do arcabouço fiscal existente por meio de medidas de alta qualidade é crítico para preservar a credibilidade destas ferramentas, evitando futura evasão fiscal", ressalta o documento.

Citando o Brasil, o FMI destaca que as empresas locais passaram a tomar mais empréstimos em moeda estrangeira e a fazer captações no exterior, aproveitando os juros baixos no primeiro mundo. Isso aumentou a exposição delas a riscos externos. Por isso, o relatório fala que deve ser uma prioridade elevar as taxas de poupança doméstica, incluindo por meio de finanças públicas mais fortes. O cenário externo tende a ficar menos favorável, por exemplo, com a elevação dos juros nos EUA, por isso a necessidade de monitorar o setor financeiro e os passivos das empresas, destaca o relatório.

Nas reformas estruturais, o FMI fala de medidas, no Brasil, para melhorar a educação no curto prazo, aumentar a produtividade e a competitividade, além de se criar um ambiente de negócios que estimule o investimento privado. "Sem tais reformas, o crescimento pode continuar a desapontar em comparação à alta expectativa criada na década passada e colocar em risco as importantes conquistas sociais da região", conclui o texto.

"O desafio dos governos é restabelecer a confiança dos agentes", afirma o economista-chefe do FMI, Olivier Blachard.
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