Fundações e bancos têm perdas de R$2,5 bi com Sete Brasil

Agência Estado
09/05/2015 às 08:09.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:57

Os bancos e fundos de pensão sócios da Sete Brasil vão ter de registrar perdas de cerca de R$ 2,5 bilhões com a empresa, criada para gerenciar a compra de sondas do pré-sal e que passa por grave crise financeira. O valor equivale a uma desvalorização de 30% nas cotas do fundo Sondas, que é o instrumento usado pelos acionistas para controlar a empresa.

A conta que mostrou as perdas desde o ano passado até 31 de março deste ano foi feita pela Caixa Econômica Federal (CEF), que é a administradora do Fundo Sondas. O extrato com a informação foi enviado ontem aos acionistas da Sete. Oficialmente, a Caixa informa apenas que o valor das cotas será apresentado somente na semana que vem.

Mas os acionistas já estão contabilizando as perdas. O BTG Pactual já tinha anunciado nesta semana que fez uma provisão para perdas de 25% do que investiu na Sete. Entre os principais acionistas da empresa, por meio do fundo Sondas, estão os fundos de pensão da Petrobrás (Petros), da Caixa (Funcef) e o próprio BTG Pactual, além do Santander. Ainda fazem parte da lista o banco Bradesco, os fundos de pensão da Vale e do Banco do Brasil, o FI-FGTS e as empresas Lakeshore, Luce Venture Capital e EIG Global Energy Partners.

Para Funcef e Petros, mesmo que seja apenas um registro contábil, o impacto tende a ser expressivo. Isso porque precisam contabilizar as perdas em meio a um cenário de déficits recorrentes, que têm levado aposentados e funcionários a terem de aumentar suas contribuições para cobrir os rombos nos fundos. Cada uma das fundações terá de registrar desvalorização da ordem de R$ 500 milhões.

O diretor de um dos fundos de pensão diz que as perdas deveriam ser registradas em porcentuais maiores, se levada em conta a base de provisões feita pelo BTG nesta semana. Isso porque o banco registrava em seu balanço apenas o valor que efetivamente aportou na Sete. Já as fundações e outros cotistas contabilizaram valorização de 25% registrada pela Caixa no fundo Sondas em 2013.

A Funcef confirmou que vai registrar nas demonstrações contábeis do mês de abril essa desvalorização, mas alegou que não havia sido informada ainda oficialmente sobre a desvalorização das cotas. Já o Petros disse que contratou um laudo de avaliação independente que informava ao fundo a necessidade de reduzir em 29% o valor que tinha aplicado na Sete. Mas essa desvalorização não afetará o balanço de 2014, que ainda não foi divulgado pela fundação.

Entre os maiores cotistas do fundo, somente o banco Santander não quis prestar informação, nem mesmo de que porcentual possui do investimento. O Bradesco informou que tem uma participação de apenas 3% por meio de um fundo de private equity e está fazendo os ajustes necessários. Já o FI-FGTS, que tem cerca de R$ 640 milhões como acionista, disse que deve fazer correções na próxima publicação. A Previ tem uma participação pequena, que representa menos de 1% do patrimônio da fundação.

Lava Jato

A situação da Sete Brasil é bastante delicada e pode levar a uma perda total dos R$ 8,3 bilhões aportados pelos acionistas da companhia. A empresa tem até junho para apresentar um plano de reestruturação que contemple a forma como vai se financiar no longo prazo. Desde novembro do ano passado, a Sete deixou de pagar os estaleiros que estão construindo as 28 sondas que contratou por US$ 25 bilhões. Neste ano, atrasou o pagamento de um empréstimo de R$ 12 bilhões feito por seis bancos.

O problema da Sete é que o BNDES suspendeu a liberação do financiamento de longo prazo desde que a empresa foi envolvida na Operação Lava Jato. Um ex-dirigente, Pedro Barusco, fez acordo de delação premiada e revelou que houve pagamento de propinas nos contratos da empresa com os cinco estaleiros que constroem as sondas. Desde então, não há mais crédito na praça e os bancos tiveram de dar mais prazo para tentar receber o que lhes é devido. Na reestruturação, os acionistas estudam reduzir o número de sondas contratadas. Para o financiamento, buscam alternativas, e uma possibilidade são os bancos chineses. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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