(Hoje em Dia)
A partir deeste sábado se inicia um novo ciclo para o setor de etanol, com impactos importantes para a indústria e para o consumidor. Quem for abastecer já poderá encontrar em alguns postos o preço do etanol mais competitivo do que o da gasolina – isso ocorre quando o valor do álcool for de até 70% o da gasolina. Para a indústria, um conjunto de medidas que gradualmente entrarão em vigência, com início no sábado, vai assegurar ao setor sucroalcooleiro um 2015 de inversão de tendências. Se desde 2007 o cenário era de fechamento de usinas e corte de empregos, o ganho de competitividade projetado para o etanol no primeiro trimestre deste ano vai garantir que, nas bombas, o álcool seja mais vantajoso que a gasolina. Além do aumento da incidência de PIS/Cofins sobre a gasolina, válido a partir deste domingo e com impacto de R$ 0,22 por litro, para segunda-feira (2) é aguardado o anúncio do aumento da mistura do álcool anidro sobre a gasolina, de 25% para 27%. Em março entrará em vigência a desoneração do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) sobre o etanol em Minas Gerais. A alíquota vai cair de 19%para 14%, com impacto de redução do preço do etanol nas bombas em R$ 0,12 por litro. Depois, em maio, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), voltará a incidir sobre o combustível fóssil, o que terá impacto de R$ 0,10 no litro da gasolina. Em paralelo, porém, o PIS/Cofins vai cair para manter a elevação de tributos em R$ 0,22 por litro. A previsão da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig) é dobrar o consumo de etanol no Estado ainda este ano. “As coisas vão melhorar aos poucos. Esse aumento da gasolina amanhã não vai necessariamente deixar o etanol vantajoso, porque isso depende da estratégia comercial de cada posto. Podem aparecer oportunidades isoladas. No entanto, em março, com a redução do ICMS isso será mais facilmente percebido nas bombas e nas usinas, que voltarão a pensar em investimentos”, disse o presidente da Siamig , Mário Campos. Ele destaca que, na segunda-feira (2), caso se confirme o aumento da mistura do álcool anidro na gasolina, isso pode reduzir o preço deste produto porque o anidro vai baratear o custo de produção. Campos ainda destacou que o período atual é de entressafra no campo, o que acarretou uma leve alta nos preços do etanol nas últimas semanas, adiando um pouco a competitividade do combustível nas bombas. Conforme pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço, em janeiro, foi de R$ 2,19 por litro na primeira semana do mês para R$ 2,21 até sexta-feira. Com o preço da gasolina em 3,03, na média estadual, o etanol custa 73% do valor da gasolina. Usineiros pensam em retomar projetos de expansão Os postos de gasolina de Belo Horizonte ainda não definiram qual será o aumento da gasolina, mas já informam que o repasse será integral e não se restringirá ao reajuste de impostos. Ao preço dos combustíveis ainda será acrescido o reajuste cobrado pelo frete dos produtos, uma vez que o diesel também sofrerá aumento, com impactos no valor da distribuição. O aumento do diesel virá da correção dos valores de Pis/Cofins, que deixará o litro desse combustível R$ 0,15 mais caro. Na segunda-feira, os postos renegociarão os valores do frete, e ele será incorporado ao preço dos combustíveis. O gerente do Posto Seguro, na avenida Presidente Carlos Luz, no Caiçara, em Belo Horizonte, Nilson Ribeiro Marques Júnior, observa que ainda não realizou os cálculos, incluindo o frete, para definir a nova tabela de preços. “As distribuidoras vão renegociar o frete na segunda-feira. O aumento de impostos será repassado integralmente ao consumidor, e ainda preciso saber o novo preço do frete e fazer cálculos para chegar a um valor”, afirmou. No Posto São Sebastião, situado à avenida Silviano Brandão, no bairro Floresta, também na Capital, a tributação maior da gasolina também será totalmente paga pelo consumidor. Em outros casos, como no Posto Gerais, na rua Gastão Demétrio Maia, no bairro Floramar, o etanol já é mais competitivo do que a gasolina. A um custo de R$ 1,939 o litro de etanol, a relação com a gasolina, que tem preço de R$ 2,839 por litro, é de 68,2%. A elevação do preço da gasolina, nesse caso, assegurará ao álcool uma folga vantajosa. Em algumas outras revendas o etanol tem preço entre 71% e 73% do valor da gasolina, e qualquer aumento no derivado do petróleo fará o biocombustível mais competitivo. Isso deve começar a ser percebido amanhã ou no decorrer da semana, conforme o estoque de cada posto. Esse ganho de atratividade do etanol faz o setor pensar em retomada em 2015. Além de colocar fim às demissões que se tornaram comuns nos últimos anos com o encerramento de atividades de algumas usinas, a estratégia é dobrar o consumo de etanol em Minas Gerais. O presidente da Siamig, Mário Campos, informou que atualmente para cada 100 litros de gasolina comercializado são vendidos 15 litros de etanol. “Até dezembro vamos aumentar para 30 litros essa relação da parte do etanol. Temos produção suficiente, esse ano a safra será mais direcionada para álcool do que para açúcar, e o cenário melhor nos fará retomar investimentos”, disse. A moagem da safra 2014 foi de um total de 59 milhões de toneladas de cana. Foram 2,6 bilhões de litros de etanol produzidos em Minas Gerais. No entanto, o mercado mineiro consumiu 1,7 bilhão, e o restante foi direcionado para São Paulo. A safra foi 57% de etanol e 43% de produção de açúcar. A nova safra, que se inicia em abril, deverá atingir o percentual de 60% direcionados para a fabricação de álcool, tanto anidro (misturado com a gasolina) como hidratado (vendido nas bombas).