(Ernesto Rodrigues/Estadão Conteúdo)
O Brasil precisa de um ajuste fiscal, mas o governo Dilma Rousseff deve mostrar por que ele é necessário e indicar quais são os rumos futuros do país, disse nesta quarta-feira (13) o presidente Fernando Henrique Cardoso em Nova York. Segundo ele, o PSDB não é contra o pacote proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mas rejeita algumas de suas medidas.
Na semana passada, a bancada tucana votou em peso contra a proposta que restringe o acesso a benefícios trabalhistas. "O ajuste tem de ser feito, vai ser feito. Haverá discussões, o PSDB vai votar uma hora a favor uma hora contra", declarou FHC em Nova York, depois de participar de seminário com investidores ao lado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Na avaliação de FHC, Dilma precisa indicar o que pretende fazer em uma série de áreas, da atuação das agências reguladoras aos investimentos, passando por redução da influência partidária na máquina pública e solução das deficiências do setor de energia.
"O ajuste é para quê? Para reforçar outra vez os mesmos donos do poder que nos levaram a esse desastre ou é para criar uma situação que possa permitir uma esperança maior para o Brasil?", questionou em entrevista concedida ao fim do evento.
Otimismo
Tanto FHC quanto Alckmin adotaram um tom otimista em seus discursos aos empresários, em um evento voltado à atração de investimentos para o Estado de São Paulo. Ambos disseram que a crise atual é conjuntural e momentânea. "A sociedade brasileira é melhor do que sua elite política", declarou o governador.
Na entrevista, o ex-presidente foi mais incisivo nas críticas ao governo. Disse que houve um "destino de gasto público", que agora precisa ser revertido. Mas para que isso seja possível, falou, é necessário mostrar o passo seguinte. "Não se pode fazer sem explicar qual é a saída, para onde nós vamos, qual é o futuro que estamos criando para o Brasil. Está faltando esse outro lado", disse ele.
Alckmin também foi mais duro nas declarações à imprensa do que em seu discurso aos 374 empresários e investidores reunidos em Nova York. Segundo ele, 90% do ajuste proposto por Dilma recaem sobre a população, por meio do aumento de impostos e corte de benefícios. "A parte do governo é muito tímida, quase não existente."
Nas declarações aos jornalistas, o governador defendeu ainda a realização de reformas estruturais. "Eu destacaria a reforma tributária, para simplificar o modelo, a reforma política. Não é possível nós estarmos com mais de 30 partidos políticos e 26 na lista de espera, podemos chegar a 60 partidos políticos no Brasil, isso é inimaginável."
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