As cidades do interior paulista absorveram no ano passado a maior fatia dos investimentos anunciados para o Estado de São Paulo comparativamente à Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Também a maior parte da cifra anunciada para o interior se concentrou em empreendimentos em quatro grandes regiões: Campinas, Sorocaba, São José dos Campos e Baixada Santista.
Os dados são da Pesquisa de Investimentos Anunciados (Piesp) realizada pela Fundação Sistema Estadual Análise de Dados (Seade) da Secretaria e Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo. No ano passado, os investimentos para o Estado de São Paulo somaram R$ 83,175 bilhões. Dessa cifra, cerca de metade (51%) pôde ser identificada pela pesquisa em qual município o investimento será realizado.
Dos investimentos identificados com os respectivos municípios, a menor parte (35,9% ou R$ 15,297 bilhões) está na RMSP, que abrange a capital e 38 municípios. A maior fatia (64,1% ou R$ 27,246 bilhões) é investimento anunciado para as cidades do interior. As regiões de Campinas, São José dos Campos, Baixada Santista e Sorocaba absorveram R$ 23,590 bilhões ou 87% do investimento anunciado para o interior do Estado.
"Essa é a desconcentração concentrada", afirma o diretor de Análise e Disseminação de Informação da Fundação Seade, Haroldo da Gama Torres. Ele explica que, desde os anos 1980, há uma discussão intensa sobre a desconcentração produtiva da RMSP em direção ao interior. Nas décadas seguintes, esse debate evoluiu no sentido de mostrar que ocorre uma desconcentração concentrada.
Isto é, a ideia, diz Torres, é que empresas se deslocam para fora da RMSP, mas num raio de 100 a 150 quilômetros da metrópole. Esse raio é formado basicamente pelas regiões de influência das cidades de Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Santos.
O deslocamento do investimento da RMSP para o interior fica mais nítido quando se avaliam os recursos destinados à indústria, observa Vagner Bessa, gerente da área de Indicadores Econômicos da Fundação Seade e responsável pela pesquisa.
Em 2010, 67% do investimento identificado com o município e anunciado para a indústria no Estado foi para as cidades do interior e 33% para a RMSP. No ano passado, o interior avançou ainda mais e ficou com 71,5% do investimento da indústria, enquanto a RMSP deteve 28,5%.
Bessa destaca que os grandes investimentos na RMSP estão concentrados em infraestrutura e no setor imobiliário. "Já a maior parte do investimento produtivo (indústria) vai para o interior, em municípios localizados no entorno de RMSP", diz. O levantamento tem como base de dados os investimentos anunciados na imprensa, por empresas públicas e privadas, que são checados pelos técnicos da Seade.
Emprego
A maior concentração dos anúncios dos investimentos nas cidades do interior paulista é confirmada pela evolução do emprego formal na indústria. Entre 2005 e 2010, o emprego na indústria no Estado de São Paulo cresceu 4,8%; na RMSP, o acréscimo foi de 3,7% e nas cidades do interior do Estado de São Paulo, de 5,7%.
Torres destaca que a interiorização do investimento, especialmente da indústria, não significa um movimento em massa de fechamento de fábricas na RMSP e abertura nas cidades do interior. "Em alguns casos, isso é verdade. Mas, na maior parte das vezes, é que o novo investimento acontece fora RMSP", diz. Ele pondera que a força da indústria na cidade de São Paulo ainda é muito grande. De acordo com o último dado disponível, o município respondeu por 8,9% de todo valor agregado na atividade industrial do País em 2009. "É um legado", ressalta.
A migração das novas fábricas para as cidades num raio de 150 quilômetros da RMSP se explica, principalmente, por dois conjuntos de fatores, diz Torres. O primeiro é o aumento do custo de produção, envolvendo desde mão de obra e preço dos terrenos, entre outros fatores de produção. O segundo são as boas condições da infraestrutura.
"Nos últimos 20 anos, foram feitos grandes investimentos em estradas, energia elétrica e telefonia, que tornaram mais fácil uma fábrica no interior. No passado, era muito mais difícil produzir nas cidades do interior, porque a circulação de mercadorias era complicada e obter um profissional adequado, também."
Para Bessa, a malha rodoviária é fator preponderante para o empresário optar por novos empreendimentos fora da RMSP . "Essas empresas não podem ficar longe da RMSP, porque o elo com a região é muito forte." As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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