Investimento: o péssimo negócio dos títulos de capitalização

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
09/12/2013 às 07:55.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:39
 (Carlos Rhienck)

(Carlos Rhienck)

Provavelmente o gerente do seu banco ou um operador de telemarketing já lhe ofereceu um título de capitalização. Apesar de não ser investimento – se aproxima mais de um jogo –, o produto caiu nas graças dos brasileiros. Entre 2007 e 2012, as vendas desses papéis cresceram 112%, saltando de R$ 7,8 bilhões para R$ 16,5 bilhões. E a cada dia cresce o número de adeptos. De janeiro a setembro deste ano, o montante superou a casa dos R$ 15 bilhões.

O apelo de vendas está nos sorteios de prêmios. Entretanto, especialistas acreditam que investir em títulos é quase a mesma coisa que deixar dinheiro embaixo do colchão.

“Esse produto geralmente só devolve ao cliente o que ele mesmo aplicou. A correção é muito baixa e pode nem existir”, alerta o analista de mercado Paulo Vieira.

Outra desvantagem apontada por ele é o período de carência. “Você pode ficar impedido de resgatar o dinheiro por um tempo. E se tirá-lo antes do vencimento é obrigado a pagar uma taxa, o que reduz o valor a receber”, emenda.

Poupança falsa

Uma propaganda comumente utilizada por bancos e corretoras é a da oportunidade de se fazer uma “poupança forçada”. Mas o argumento é desmentido por Vieira. “Se o objetivo é poupar, existem vários tipos de investimento. Títulos não protegem o dinheiro nem da inflação”, diz.

Ele põe no papel: o título de capitalização, quando muito, rende apenas a TR (Taxa Referencial), atualmente próxima de zero, uma vez que boa parte do valor vai para o que os bancos chamam de taxa de carregamento e taxa de sorteio. Já na caderneta de poupança, por exemplo, o cliente terá rendimentos de 6,17% ao ano mais a TR. “E olha que a poupança é uma opção conservadora”, observa Vieira.

O aposentado David Ferreira se ressente hoje ao falar que “caiu no conto do vigário”. Aos 84 anos, ele conta que foi induzido pela gerente do banco a aplicar R$ 1 mil por ano em títulos de capitalização até 2015. Para não perder dinheiro, só poderá resgatar a quantia daqui a três anos. “Tenho saúde, mas nem sei se estarei vivo até lá. Agiram de má-fé”, desabafa.

Disciplina para poupar, mas sem rendimento

Para o professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, Samy Dana, títulos de capitalização são um dos erros que os clientes cometem ao aceitar determinados produtos bancários.

“Normalmente, o gerente oferece o título como muito útil para quem não tem disciplina para poupar. Só que omite que o negócio não apresenta rendimento algum”, afirma Dana, para quem o produto deveria se chamar “título de descapitalização”.

Não é o que diz o diretor executivo da Federação Nacional de Capitalização (Fenacap), José Ismar Torres. “Na Mega Sena, a chance é de um para cada 52 milhões. Já na capitalização, há séries e as chances podem ser de um para cada 10 mil, 100 mil ou 500 mil”, rebate.

Torres admite que capitalização não é investimento, mas defende que também não é loteria. “O produto inclui o ato de poupar”, diz.

Segundo Torres, R$ 3 milhões em prêmios são pagos a cada dia útil. Atualmente, 40 milhões de brasileiros têm títulos. 
 

© Copyright 2025Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por