A percepção de que será inevitável o governo impedir que a inflação enfrente um choque de preços de alimentos neste primeiro semestre, basicamente devido à alta motivada pela seca do verão, leva economistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, a avaliar que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve continuar elevado no curto prazo. Isso aumenta a probabilidade de o Banco Central (BC) estender o ciclo de subida de juros para além de 2 de abril.
Na avaliação do economista-chefe da LCA, Braúlio Borges, a "inflação resistente" neste começo do ano, causada, basicamente, pelos efeitos da seca sobre alimentos e desvalorização cambial no final de 2013, começa a formar um cenário no qual o BC precisará elevar os juros em abril, maio e talvez também em julho.
A consultoria já previa que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC aumentaria a Selic no próximo mês e no seguinte, quando a taxa chegaria a 11,25% ao ano, em função de um quadro mais vigoroso de alta média dos preços, que é corroborado por elevados núcleos e índice de difusão.
"Subiram de 25% para 40% as chances de o Copom elevar os juros também em julho em 0,25 ponto porcentual", destacou. "O Banco Central previa, no cenário de referência do relatório de inflação de dezembro, que o IPCA atingiria 5,5% no final do primeiro trimestre, no acumulado em um ano. Contudo, esse indicador está mais forte, está subindo mais e deve fechar o período bem mais alto, em 6,1%", ponderou. Ele acredita que o índice deverá fechar neste ano também em 6,1%, marca superior aos 5,91% registrados em 2013.
Além da alta de um choque de preços nos alimentos, propiciada pela seca do verão, outro elemento que pressiona a inflação são as dúvidas sobre a geração de energia nos próximos meses, comentou professor José Márcio Camargo, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), economista-chefe da Opus Gestão de Recursos. "Estes dois fatores devem colaborar bem para que o IPCA fique mais alto em 2014 do que no ano passado, com riscos expressivos de superar o teto de 6,5% em dezembro", ponderou.
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