Quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou os dados do Produto Interno Bruto (PIB), toda a riqueza gerada no País, na semana passada, a surpresa com o crescimento econômico de apenas 0,6% no primeiro trimestre foi geral. Analistas de mercado esperavam mais - 0,9% era o consenso -, numa repetição das frustrações de estimativas vistas em 2012. Relatório da LCA Consultores divulgado nesta quarta-feira aponta a acomodação da economia após os excessos de incentivos em 2009 e 2010; a redução da demanda externa, e a metodologia do PIB como possíveis responsáveis pelas discrepâncias.
Até 2011, as estimativas para o PIB trimestral e os dados do IBGE coincidiam. Em 2012, começou a haver desacertos. No primeiro trimestre, o consenso das estimativas era crescimento de 0,5%, segundo levantamento do AE Projeções, do Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, mas o PIB avançou 0,2%.
No terceiro trimestre, o consenso era 1,2% e o IBGE apontou 0,6%. No quarto trimestre, a discrepância foi menor (0,8% nas projeções, 0,6% no IBGE), mas voltou a subir no primeiro trimestre deste ano. Após a divergência nos dados do terceiro trimestre do ano passado, houve uma discussão entre economistas sobre a metodologia do PIB. À época, o alvo foi a atividade de intermediação financeira, que causou impacto no PIB de serviços.
De acordo com a LCA, a medição do PIB de serviços seria a grande dificuldade. Em abril, a consultoria já havia feito um estudo, antecipado pelo Broadcast. Pelos cálculos, o crescimento econômico de 2012 teria sido de 2,9%, e não 0,9%. Isso explicaria a resistência do mercado de trabalho, com aumento real de renda e geração de empregos numa época de crescimento baixo - que, na verdade, não seria tão pequeno assim. Após a reportagem do Broadcast, o tema foi debatido na reunião entre a presidente Dilma Rousseff e os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo, Delfim Netto e Yoshiaki Nakano.
Segundo o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, a maior dificuldade é a falta de dados antecedentes sobre o setor de serviços. Num quadro em que o setor responde por 60% do PIB e anda em "caminho oposto" ao da indústria - sobre a qual há mais dados -, tudo fica mais difícil. O próprio documento da LCA ressalta que o IBGE trabalha na revisão das Contas Nacionais e deverá divulgar nova metodologia para o PIB na virada de 2014 para 2015. Conforme Leal, porém, não é assegurado que o crescimento econômico está subdimensionado e é maior do que o divulgado.
"Os serviços podem estar subestimados, mas os dados de desemprego também podem estar enviesados", diz. Na análise dele, os dados ficarão melhores quando o IBGE começar a divulgar a Pesquisa Mensal de Serviços e a calcular o desemprego pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trimestral.
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