(Maurício Vieira)
Junto ao agronegócio, a construção civil tem sido um dos principais motores econômicos do país na pandemia. Em Minas, indicadores divulgados ontem pelo Sindicato das Indústrias do setor (Sinduscon-MG), em parceria com a Fiemg, ilustraram bem tal realidade. Os índices de atividade (51 pontos), em julho, e o de expectativas das empresas de construção ( 55,2 pontos), em agosto, foram os melhores dos últimos oito anos para os respectivos meses.
Além disso, o índice de evolução do número de empregados do segmento, no Estado, avançou 4,7 pontos em julho sobre junho (48,3 pontos) e marcou 53 pontos. Foi a primeira vez, desde setembro de 2019, que tal indicador superou a marca dos 50 pontos – que separa pessimismo e otimismo na visão dos empresários. Vale lembrar que, conforme o Caged, do governo federal, a construção mineira fechou julho com mais de 5,3 mil vagas de saldo positivo, consolidando-se como destaque entre todas as atividades econômicas.
Também como ocorre no agronegócio, contudo, os bons ventos na construção sofrem ameaça de tormentas. O problema, segundo o presidente do Sinduscon-MG, Geraldo Linhares, é a disparada de preços de produtos básicos para a construção civil, algo que fez com que a inflação do segmento (o Índice Nacional da Construção Civil, ou Sinapi, do IBGE) chegasse a 0,88% em agosto, maior percentual mensal desde março de 2014 e bastante acima do percentual de julho (0,49%).
“Na vida, sempre tem o contraditório. Nessa escalada que vemos aí, de bons resultados, temos também outra, de aumentos abusivos nos preços de material, como tem ocorrido com alguns produtos nos supermercados, caso do arroz. E isso pode comprometer o setor e fazer com que o consumidor é que venha a pagar o pato, nos lançamentos futuros”, afirma Linhares.
“O Custo Unitário Básico aumento 1,69%, o dobro do mês anterior, puxado pelos materiais. Isso é um absurdo. O cimento, por exemplo, subiu de janeiro até agosto 40%, o aço, 20%, o PVC, 15%, os cabos, na proporção de 15% a 18%”, ressalta o dirigente.
Custos
Conforme o IBGE, o Sinapi acumulou alta de 2,86% nos primeiros oito meses do ano. Já nos últimos 12 meses, a inflação é de 3,78%. O custo nacional da construção, por m², que em julho foi de R$ 1.181,41, passou em agosto para R$ 1.191,84.
Desequilíbrio deve salgar valores e prejudicar o consumidor
O presidente do Sinduscon-MG, Geraldo Linhares, acredita que, assim como no caso de certos itens alimentícios, que têm subido de maneira exagerada nos últimos dias e meses – o arroz e o óleo de soja, por exemplo, tiveram preços de algumas marcas majorados em mais de 40% nos supermercados da capital, entre abril e este mês –, a elevação de valores da “cesta básica da construção” tem a ver com a pandemia.
“Com o auxílio emergencial pago pelo governo desde abril, a procura por produtos como cimento e areia por quem foi beneficiado, e pelo que chamamos de indústria informal da construção, cresceu bastante, pressionando os preços. Por outro lado, as pessoas perceberam na quarentena a importância de ampliarem o conforto das suas casas, o que as levou a reformar os imóveis”, diz.
Embora Linhares acredite que os preços devam cair um pouco nos próximos meses, em razão, entre outros fatores, da redução do “coronavoucher” (o benefício, que vai até dezembro, passou de R$ 600 para R$ 300), a expectativa é de que não voltem nunca mais aos patamares deste ano. Com isso, imóveis que serão lançados ainda em planta no quarto trimestre e em 2021 – isso exclui os que já foram lançados e negociados – devem ter valores bem mais salgados para os compradores.
“Infelizmente, quem não teve ou tem a oportunidade de comprar apartamento agora será penalizado, porque as empresas serão obrigadas a repassar esse aumento de custos para os preços dos lançamentos futuros. Quem vai pagar o pato é o consumidor”, afirma ele.
O dirigente disse ainda ser difícil prever de quanto será tal elevação, mesmo que em média. Arriscou, porém, um percentual, baseado nos projetos da própria empresa, que atua no segmento do programa Minha Casa Minha Vida. “Eu diria que teremos um aumento de custo da ordem de 10% no MCMV. E isso será um problema, porque o limite de preço do apartamento hoje, em BH, é de R$ 215 mil. Teoricamente, eu não poderia fazer a R$ 230 mil”, destaca.