O diálogo entre os produtores de açúcar e etanol com o Palácio do Planalto melhorou com a chegada do ministro Aloizio Mercadante à Casa Civil, em meio à dissidência sinalizada por parte do setor para os candidatos de oposição Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Mas o segmento sucroalcooleiro reclama que falta sair da conversa para a ação capaz de tirar a indústria da cana-de-açúcar da pior crise vivida desde que o biocombustível foi apresentado pelo ex-presidente Lula como símbolo da inovação à moda brasileira.
"Com a presidente Dilma, a gente nunca teve muita proximidade. O que não significa que o resto do governo não receba o setor. Eu vou à Brasília toda semana, mas há uma grande dificuldade de falar com a presidente e o ministro Guido Mantega (Fazenda)", afirmou ao Broadcast, serviço de notícia em tempo real da Agência Estado, a presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única), Elizabeth Farina. A executiva participou na semana passada do encontro de Dilma com a indústria, no qual o governo reeditou um pacote para estimular o setor de transformação. O fórum organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) foi o primeiro encontro para o qual Elizabeth foi convidada desde o ano passado.
Os produtores de açúcar e etanol não fizeram parte do jantar entre o agronegócio e Dilma no mês passado, no Palácio da Alvorada. Apesar do convite para o Fórum da Indústria, o setor sucroalcooleiro saiu da reunião sem nenhuma medida específica. A promessa de um diálogo para a formulação de um pacote para o setor ficou a cargo de Mantega, que se comprometeu a receber lideranças sucroalcooleiras nesta semana na Fazenda. Faltou, contudo, efetivar o convite. "O ministro Mantega disse no fórum que o etanol é 'sofrido' e teria uma agenda com o setor essa semana. Não houve retorno até agora e eu, então, pedi essa agenda", diz.
O encontro não aconteceu durante a semana e tampouco consta da agenda oficial do ministro divulgada para hoje. Mix. A pauta da Única entregue a Mercadante como base para a elaboração do pacote inclui o aumento da mistura de etanol na gasolina da proporção de 25% para 27,5%, a liberação de recursos para construção armazéns de açúcar, sugestões para uma política bioenergética, a redução da contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento de 2% para 1% do faturamento das empresas.
Além do retorno do imposto da gasolina (Cide) no patamar anterior, que garantia uma diferença de R$ 0,28 a cada litro sobre o etanol. A pauta incluiu, ainda, o cumprimento de uma promessa feita por Dilma no ano passado, em sua única "reunião longa" com o setor: a criação um mecanismo rápido para resgatar créditos de PIS/Cofins. Nas contas da Única, o setor sucroalcooleiro tem R$ 1,2 bilhão em crédito retido."A possibilidade de resgate está prevista, mas o governo tem um ano para avaliar e cinco anos para liberar", relata. "A presidente se comprometeu a criar um mecanismo rápido para a recuperação desses créditos. Esse foi um compromisso da presidente, mas isso está parado."
Eleição.
Embora reconheça a postura de "liderança política" de Mercadante, que já se reuniu duas vezes com o setor, a presidente da principal entidade da indústria da cana-de-açúcar critica a demora na tomada de decisão. A principal crítica é de que o setor é recebido apenas pelo segundo escalão do governo, que não tem poder de decisão. "Acho que há uma diferença entre interlocução, tomada de decisão e ação. Interlocução estamos tendo, mas não com a presidente. Ação e decisão não estamos tendo", dispara. Elizabeth afirma que falta uma "sinalização de uma ação estratégica de uma política de combustível". A executiva, contudo, evita falar em apoio político a Aécio e Campos, indicando apenas que o diálogo com eles ocorre com naturalidade em ano de eleição.
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