Mercado de trabalho aquecido pressiona inflação, dizem analistas

Fernando Dantas
24/03/2013 às 08:23.
Atualizado em 21/11/2021 às 02:12

Para uma importante corrente de analistas, a economia brasileira teria de crescer muito pouco em 2013, ou mesmo ficar parada, para atenuar as pressões inflacionárias derivadas do mercado de trabalho aquecido. Segundo projeção de Fernando de Holanda Barbosa Filho e Rodrigo Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, no Rio (FGV-Rio), se o PIB brasileiro crescer apenas 1% em 2013, a taxa de desemprego permanecerá na baixa recorde de 5,5% (média mensal de 2012 da desocupação nas principais regiões metropolitanas, livre de variações sazonais).

Para o economista José Márcio Camargo, da gestora de recursos Opus, a atual situação do emprego é "altamente inflacionária", porque leva a um crescimento de 8% a 10% dos salários ao ano, acima da inflação. "Sem aumentar a taxa de desemprego, será difícil manter a inflação sob controle num prazo mais longo - a inflação vai se acelerar lentamente", diz.

Camargo acrescenta que "qualquer crescimento (do PIB) acima de 1% vai manter o mercado de trabalho aquecido e, para provocar um aumento na taxa de desemprego, a economia terá de ter crescimento próximo de zero ou negativo". Ele nota que a população economicamente ativa está crescendo pouco, a produtividade não está aumentando e a economia está se expandindo com base no setor de serviços, que emprega mais mão de obra.

Segundo seus cálculos, se forem eliminadas todas as desonerações tributárias e outras medidas para controlar preços, como a defasagem dos combustíveis e a redução das contas de luz, a inflação anual estaria por volta de 7,4%, bem acima do teto do limite de tolerância do sistema de metas, de 6,5%. Para muitos economistas, aquelas medidas sobre preços reduzem o índice de inflação apenas momentaneamente, mas não atacam as pressões inflacionárias de fundo.

Hoje, uma boa parte dos analistas prevê que o Banco Central (BC) elevará a Selic, a taxa básica de juros, em algo como 1 a 1,5 ponto porcentual este ano (ela está em 7,25%). Mas, para conter a inflação derivada do mercado de trabalho aquecido (que afeta principalmente o setor de serviços, protegido da competição internacional), vários economistas acham que a alta da Selic teria de ser muito maior.

Essas grandes altas dos juros, porém, são descartadas unanimemente, já que seriam o equivalente a uma forte freada na economia e no emprego que provavelmente se faria sentir principalmente em 2014, ano de eleição presidencial. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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