Ministério divulga estudo prevendo 'revolução tecnológica' no setor energético brasileiro

Agência Brasil
26/11/2021 às 12:17.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:20
 (Fábio Rodrigues/ Agência Brasil)

(Fábio Rodrigues/ Agência Brasil)

O setor de energia poderá passar por adaptações tecnológicas que representarão uma revolução similar à ocorrida com as telecomunicações. Em termos práticos, significa, entre um número ainda inimaginável de possibilidades, transformar medidores de energia e demais equipamentos em unidades de inteligência artificial e, a partir da digitalização de dados e procedimentos, ampliar como nunca a qualidade e os serviços prestados pelas empresas do setor.

O potencial da digitalização do setor energético vai muito além do que se pode imaginar nos dias atuais, conforme sugere um estudo divulgado nesta sexta-feira (26), em Brasília, pelo Ministério de Minas e Energia (MME). Foi o que disse à Agência Brasil o diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do MME e coordenador do projeto Sistemas de Energia do Futuro, Carlos Alexandre Príncipe Pires.

O estudo Uso de Novas Tecnologias Digitais para Medição de Consumo de Energia e Níveis de Eficiência Energética no Brasil é, segundo ele, “uma ideia lançada no ar” para mostrar à comunidade e, em especial, às empresas do setor energético, “um horizonte inicial” sobre o impacto que a digitalização de equipamentos e serviços pode ter para o Brasil. 

Elaborado por meio da Parceria Energética Brasil-Alemanha, o trabalho é produto de uma cooperação entre o Ministério de Economia e Energia (BMWi) da Alemanha e o MME, que tem por base experiências europeias no uso da Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT), Big Data e tecnologias digitais de ponta.

Ele traz insumos sobre como utilizar essas tecnologias para coletar, processar e analisar dados relacionados ao consumo de energia e medição da eficiência energética no contexto brasileiro.

Processo veloz e sem volta

“Minha percepção é de que a digitalização é um processo sem volta para todos os setores em algum momento, já que se trata de uma ferramenta que permite maior eficiência no uso dos recursos. Caso contrário, ela não se justificaria. Isso é muito perceptível. Todos os setores em que há digitalização ficam mais competitivos e eficientes, e isso não será diferente no setor energético”, argumentou.

Pires acrescentou que os efeitos da digitalização deste setor ocorrerão em uma velocidade ainda maior do que a das telecomunicações, uma vez que têm como ponto de partida ferramentas já disponibilizadas pelas telecomunicações, tanto no âmbito residencial como comercial e industrial.

Diante de tantas possibilidades, não há, segundo Pires, como deixar de se fazer um “paralelo” entre o processo de digitalização e o ocorrido no setor de comunicações. “Antes, havia telefones fixos e orelhões. Quando apareceram os celulares não se tinha a exata noção de onde poderíamos chegar. Ninguém imaginava que, em pouco mais de dez anos, até operações bancárias complexas seriam feitas por meio deles”, observou.

Inteligência artificial e “prossumidor”

Ele acrescenta que a digitalização do setor abrange não apenas consumo e oferta, mas “possibilidades quase infinitas do uso de inteligência artificial para a melhoria de processos”. 

“O consumidor passa a ser o que chamamos de prossumidor: um consumidor mais proativo que, por exemplo, pode se tornar produtor ao gerar, consumir e distribuir energia a partir da própria casa."

“O consumidor será mais ativo na sua relação com as empresas, sabendo quanto consome em tempo real e adotando ajustes que podem ou não ser automatizados residencial, comercial e industrialmente”.

Nesse sentido, ainda no campo dos exemplos, um ar-condicionado poderia ser ligado pouco antes de uma pessoa chegar em casa, a partir de um geolocalizador que, via internet, repasse essa informação à central de energia da casa. Poderá também ser desligado automaticamente, fazendo uso dessa mesma tecnologia, quando a pessoa sair de casa. 

Distribuição de energia

A digitalização terá funcionalidades também na área de distribuição de energia. “Ela dispensará a ida de uma pessoa para fazer a medição do consumo de energia ou mesmo para fazer ligações ou religações. Tudo poderá ser feito de forma remota. Uma outra possibilidade é a de automatizar, com ajuda de inteligência artificial, a reconexão, de forma alternativa, do fornecimento de energia no caso de o transformador de um bairro apresentar problema” explicou Pires.Fernando Frazão/Agência Brasil / N/A

Mudanças podem reduzir despesas para o consumidor 

No campo industrial, sensores podem proporcionar, a qualquer processo produtivo, mais eficiência. Por exemplo, ao interromper, de forma imediata, a produção quando uma falha for detectada. “E, logo em seguida, retomar o quanto antes o processo produtivo de outras formas, com máquinas ligando e desligando a partir de decisões tomadas por inteligência artificial”, argumenta.

Há também a expectativa de que, na medida em que uma frota de automóveis for se digitalizando e eletrificando, as baterias dos carros sirvam também de backup em situações de falta de energia nas residências, evitando que equipamentos vitais como respiradores ou mesmo geladeiras e freezers deixem de funcionar.

O que diz o estudo

O estudo divulgado pelo Ministério de Minas e Energia indica alguns desafios básicos, técnicos e de infraestrutura de rede, para que o Brasil avance na digitalização dos serviços oferecidos pelas companhias elétricas. 

Um deles está relacionado à “necessidade de efetividade da comunicação entre o ponto de medição e a distribuidora (necessidade de um sistema bidirecional de comunicação, o gerenciamento deste sistema dentro do negócio de energia), e seus custos associados (quem pagará o investimento e como ele deve ser articulado entre as diversas possibilidades e players)”.

Outro desafio é o país promover uma “modernização regulatória e legal da concessão de distribuição de energia, para exigir, incentivar e monitorar a digitalização em toda a cadeia de negócios de energia”, de forma a evoluir o “status quo atual das condicionantes operacionais” das distribuidoras de energia, e oferecer “mais serviços e soluções energéticas, com modelos participativos e reconhecendo as interferências de novos mecanismos de comercialização da energia possivelmente infiltrados e competindo em sua cadeia de fornecimento”.

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