Montadoras asiáticas escapam da crise no setor automotivo

Agencia Estado
27/04/2014 às 09:45.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:19
 (Yasuyoshi Chiba/AFP)

(Yasuyoshi Chiba/AFP)

Enquanto as maiores montadoras enfrentam dificuldades no mercado brasileiro e cortam produção com férias coletivas e suspensão de contratos de trabalho (lay-off), um grupo de pequenas fabricantes, todas marcas asiáticas, ainda não foi atingido pela atual crise no setor automotivo.

Hyundai, Toyota, Honda e Mitsubishi operam suas fábricas sem medidas de restrição. A Honda, que desde janeiro suspendeu as horas extras que realizava na fábrica de Sumaré (SP), estuda retomar o trabalho adicional nos próximos meses.

A suspensão do trabalho extra, em média de duas horas por dia, é consequência da mudança de toda a linha de veículos. "Estamos renovando todos os nossos produtos e, por isso, diminuímos a produção das versões atuais", diz Roberto Akiyama, vice-presidente da Honda Automóveis do Brasil.

Até setembro, a marca japonesa vai renovar os três modelos em linha atualmente e em 2015 entrará num novo segmento. Nesta segunda-feira (28), a Honda lança o novo Fit. Em julho, chega o Civic reestilizado e, em setembro, o novo City. No começo do próximo ano iniciará a produção do utilitário de pequeno porte chamado no Japão de Vezel e que terá outro nome no Brasil.

"Mesmo com o anúncio dos novos modelos, as versões atuais seguem com vendas fortes", afirma Akiyama. No primeiro trimestre, as vendas da marca cresceram 5,6%, para 29,2 mil unidades, num mercado total que caiu 1,7% em comparação a igual período de 2013, somando 775,3 mil carros e comerciais leves.

O novo Fit chega ao Brasil seis meses após seu lançamento no Japão. Segundo Akiyama, com o centro de pesquisa e desenvolvimento no Brasil, inaugurado este ano, a empresa ganhou agilidade no processo de nacionalização dos veículos. "Antes, processos como adaptação do carro ao motor flex e reforço da estrutura em razão das condições das estradas brasileiras levavam de 8 a 12 meses."

O centro tem 300 engenheiros, número que chegará a 500 em dois anos. Até lá, a Honda pretende ter 90% de componentes regionais em seus veículos, em comparação à média atual de 70%. Os novos modelos como Fit e Civic chegam com 80% de conteúdo local. Entre os itens nacionalizados estão componentes do sistema de partido a frio, que elimina o tanquinho de gasolina usado na partida, antes importado da Ásia.

O grupo constrói nova fábrica em Itirapina (SP), a ser inaugurada em 2015, e projeta para este ano alta de 3,8% em suas vendas. A fábrica de Sumaré, que opera em plena capacidade de 540 carros ao dia, em dois turnos, dará dez dias de férias coletivas a parte dos 3,4 mil funcionários em julho e dez dias em dezembro. Segundo Akiyama, serão feitos ajustes para a introdução dos novos modelos.

Fila de espera

A também japonesa Toyota cresceu 5%, para 36,5 mil unidades. O recém-lançado novo Corolla tem fila de espera de 40 dias. A fábrica de Sumaré (SP) opera em capacidade total de 320 unidades ao dia e recorre a trabalho extra em dois sábados por mês. A unidade de Sorocaba (SP), que produz o compacto Etios, também trabalha no mesmo ritmo de 320 carros por hora, segundo um porta-voz da empresa.

A coreana Hyundai dará férias de 12 dias em julho aos funcionários da fábrica de Piracicaba (SP), a exemplo do que fez o ano passado. Segundo o gerente de Relações Públicas e Imprensa, Maurício Jordão, trata-se de acerto com os funcionários, e não visa a reduzir produção. A fábrica inaugurada há menos de dois anos opera com três turnos e tem capacidade para 150 mil carros ao ano, mas pode atingir até 180 mil com ajustes.

A marca vendeu 38,1 mil unidades do HB20 e seus derivados no primeiro trimestre, alta de 20,2% em relação ao ano passado. Outra japonesa, a Mitsubishi, com fábrica em Catalão (GO), atribui o aumento de 8,4% em suas vendas à chegada dos novos produtos, como o crossover ASX, que passou a ser feito no País no segundo semestre de 2013. A fábrica emprega 3,8 mil pessoas, trabalha em um único turno e não há previsão de paradas no momento.

Ricardo Pazzianotto, sócio da PricewaterhouseCoopers, ressalta que "cada montadora tem tamanhos, produtos e estratégias diferentes para o mercado interno e para exportações e são impactadas de diferentes formas". Em períodos de crise, marcas que atuam com linha limitada e estrutura enxuta tendem a ser menos afetadas do que aquelas de grande porte, com um portfólio mais variado.

Entre as grandes fabricantes, a Volkswagen teve queda de 13,5% nas vendas do primeiro trimestre (135,5 mil unidades). Em dezembro, deixou de produzir a Kombi e o Gol G4, em razão da obrigatoriedade de instalação de airbag e freio ABS. A empresa lançou recentemente o compacto up!, que na semana passada ganhou versão com duas portas, a mais barata da linha.

As vendas da Fiat caíram 2,2% (174,7 mil) e as da GM, 3% (136,9 mil). A Ford caiu 0,6% (70,4 mil) e é outra marca que está renovando toda a sua linha e, por enquanto, não reduziu a produção. No segundo semestre, a Ford lançará o novo Ka nas versões hatch e sedã. A Renault cresceu 21,7% (51,8 mil), mas no início de 2013 a fábrica ficou parada para obras de ampliação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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