Muitos brasileiros vão comer feijão chinês nos próximos meses

Hoje em Dia
26/06/2013 às 07:25.
Atualizado em 20/11/2021 às 19:28

Mais que o futebol, o feijão faz parte da cultura brasileira. Não por acaso, o Brasil foi por muito tempo o maior produtor mundial. É tão importante que, em 2006, o governo de Minas, segundo maior Estado produtor, assinou com a Universidade Federal de Viçosa convênio para a criação do Centro de Inteligência do Feijão. Apesar disso, o Brasil se prepara para importar feijão, zerando o Imposto de Importação. Vamos comer feijão chinês.

Enquanto o governo se preocupou em oferecer à população o circo do futebol, garantindo vantagens à Fifa que parecem agora inaceitáveis, ele se esqueceu do pão. Ou melhor, do feijão. Não pareceu bem ao governo deixar por conta do mercado a preparação para receber as principais seleções do mundo. Com empréstimos subsidiados do BNDES, deu a estados condições de reformar ou construir estádios bilionários.

Havia expectativa de retorno dos investimentos, com a vinda de milhões de turistas estrangeiros. Mas as manifestações violentas estão a afugentar torcedores. É frustrante a presença de estrangeiros em Belo Horizonte para a Copa das Confederações. Será necessário muito esforço dos governos para atender boa parte das demandas dos que protestam, para que a frustração não seja maior na Copa do Mundo de 2014. Se for, como recuperar o que se investiu nos estádios?

Bem mais que os negócios pouco transparentes com a Fifa, o alto custo de vida acende a fogueira das manifestações. A perda de poder aquisitivo dos salários torna relativamente mais caras, para os trabalhadores, as tarifas de ônibus e metrô e o preço da gasolina para quem conseguiu escapar do transporte coletivo ruim. Mas nada pesa tanto, para muitos, do que a carestia dos alimentos. Só o feijão carioca, um alimento básico para a maioria dos brasileiros, teve seu preço aumentado em 44% nos primeiros cinco meses deste ano.

O caso do feijão confirma: não se pode deixar por conta do mercado a solução dos problemas de segurança alimentar. Pois o mercado se move ao sabor da oferta e da procura. Visa ao lucro, simplesmente. Apesar das promessas sempre renovadas de incentivo à agricultura familiar – a grande produtora de feijão – esse incentivo tem sido tão eficaz como o que é prometido para melhorar o transporte público.

Os brasileiros precisam receber bem os turistas estrangeiros que vierem para os jogos de futebol. Porém, preferem não ter que comer feijão chinês. Aceitam comer, mas só até a próxima safra.

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