Para supervisora, ainda é longo o caminho para diminuir desigualdades
Estudo demonstra vários indicadores que apontam que, apesar dos avanços, a desigualdade racial de rendimentos persiste no Brasil (MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL)
Apesar de avanços, a desigualdade racial de salários persiste no Brasil. É o que aponta nova pesquisa divulgada ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O rendimento médio dos negros é 40% inferior.
O levantamento demonstrou também que os negros com ensino superior ganham até 32% a menos que os demais trabalhadores com graduação – a entidade destaca que, mesmo com a adoção da Lei das Cotas, a situação pouco se alterou.
Outro dado significativo é a renda de R$ 899 mil a menos dos trabalhadores negros em relação aos não negros, durante todo o período de sua vida laboral. No caso daqueles com ensino superior, o valor chega a R$ 1,1 milhão.
No que diz respeito aos cargos de liderança, um em cada 48 homens negros está em posições de chefia ou comando. Entre os não negros, a proporção é de um para 18 profissionais. Nas profissões mais bem pagas, os negros são apenas 27% do total, com 70% dos trabalhadores em ocupações com salários mais baixos.
O levantamento do Dieese mostra que uma em cada seis negras trabalha como empregada doméstica. O rendimento médio das profissionais sem carteira é R$ 461 menor do que o salário mínimo.
Caso da pernambucana Zilma Fontes, de 48 anos, que trabalha em São Paulo e já foi contratada pelo regime de CLT como doméstica e babá. Em ambas as situações, ganhava mais do que no trabalho atual como diarista.
“Além de ganhar menos como diarista, é um trabalho muito instável. Com os benefícios de uma carteira assinada, caso o patrão não peça para não ir ao trabalho, você não fica sem receber”, disse.
Segundo a supervisora técnica do escritório do Dieese na Bahia, Ana Georgina Dias, apesar de alguns avanços e, principalmente, com a adoção de políticas reparatórias, como a Lei de Cotas, ainda “há um caminho muito longo a ser trilhado no sentido da diminuição das desigualdades”.
Ana Georgina ressaltou que o estudo do Dieese - do qual foi uma das coordenadoras - chama a atenção pela “permanência dos trabalhadores negros na condição de desigualdade ao longo dos anos, principalmente no caso das mulheres”. Ela disse que, embora tenhamos assistido avanços importantes, inclusive no setor privado, e motivados pelos movimentos negros, “há uma lacuna muito grande, que demanda ainda muito tempo para que, de fato, as desigualdades diminuam”.
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 57% da população brasileira é constituída por negros. Também são os declarados negros ou pardos a maior parcela dos trabalhadores ocupados (55%) no mercado de trabalho.
Os principais dados analisados pelo Dieese foram obtidos junto ao IBGE, na pesquisa Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua (PNAD Contínua), estando disponíveis no boletim De Olho Nas Negociações, de outubro deste ano.
* Com informações da Agência Brasil
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