planilha no vermelho

Oito em cada dez famílias brasileiras fecharam 2022 com dívidas nas alturas

Janaína Fonseca
jmaria@hojeemdia.com.br
Publicado em 23/01/2023 às 07:30.
A principal forma de endividamento em 2022 foi o cartão de crédito, mesmo que os juros sejam os maiores desde dezembro de 2016 (freepik)

A principal forma de endividamento em 2022 foi o cartão de crédito, mesmo que os juros sejam os maiores desde dezembro de 2016 (freepik)

O ano de 2022 ficou para trás deixando na economia familiar um rastro de destruição. O endividamento do brasileiro foi recorde em 11 anos - período em que a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) começou a ser feita. Quase 80% das famílias fecharam o ano endividadas, o que representa uma alta de sete pontos percentuais em relação a 2021 e de 14,3 comparado com 2019.

Essa explosão de endividados, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), responsável pela pesquisa divulgada na última  quinta-feira (19), está diretamente ligada à pandemia da Covid-19, que começou em 2020. Com a necessidade de lockdown, muitas empresas fecharam e empregos foram perdidos, aumentando o estrangulamento financeiro das famílias. 

O alto comprometimento da renda afeta principalmente mulheres, com menos de 35 anos e Ensino Médio incompleto, moradoras das regiões Sul ou Sudeste, cuja família recebe até dez salários mínimos.

A moradora de Belo Horizonte Fernanda Souza, de 28 anos, engrossa essa lista. Ela conta que o maior problema é o cartão de crédito. “A gente entra sem ver e depois passa aperto. Vai juntando uma dívida com a outra e depois tem que ficar arrumando um jeito para pagar tudo”, diz a dona de casa.

Na lista das contas a pagar de Fernanda estão roupas, brinquedos e coisas para os filhos. “A gente vai ao shopping, eles veem alguma coisa que querem, fazem pirraça e a gente acaba levando. Depois sofre para pagar”, afirma.

Pandemia
O presidente da CNC, José Roberto Tadros, explica que a pandemia reverteu a tendência de queda no endividamento que era registrada até 2019, especialmente entre os mais pobres. “Os efeitos perversos da pandemia, com o fechamento de negócios e o aumento do número de desempregados, e no pós-pandemia com o avanço da inflação, fez com que as famílias com rendas mais baixas precisassem recorrer ao crédito para manutenção do consumo de primeira necessidade. Enquanto entre as famílias de maior renda a retomada do consumo reprimido levou a maior contratação de dívidas. Esses fatores geraram o aumento no número de endividados em 2022 no país”, afirma Tadros.

“A renda dos brasileiros está afetada ainda em decorrência da crise provocada pela pandemia da Covid-19. Por isso, se a pessoa estiver inadimplente, sempre há espaço para negociação nos bancos e uma estratégia interessante é consultar as opções disponíveis nos sites de proteção ao crédito como, por exemplo, SCPC ou Serasa. Buscar fontes de renda extra sempre devem ser levadas em consideração para quitar uma dívida sem ficar com o orçamento apertado” - Eric Zapparoli, educador financeiro e especialista em investimentos

Superendividamento
Outro triste recorde revelado pela Peic é o de pessoas superendividadas. Elas representam 17,6% do total de endividados no país - a maior proporção da série histórica. A cada dez famílias com renda mais baixa, duas comprometeram mais da metade da renda mensal para o pagamento das dívidas. Já entre aqueles com maiores salários, o índice cai pela metade, o que sugere que o superendividamento está concentrado entre os mais pobres.

Em média, durante 2022, o brasileiro gastou, a cada R$ 1 mil, R$ 302 em dívidas. No total, 70% das famílias comprometeram pelo menos 10% da renda com essa finalidade. Mais de 1/5 dos endividados tiveram de gastar, no mínimo, metade do salário para pagar dívidas.

“Em mais de dez anos, nunca as pessoas se sentiram tão endividadas e o que a Peic demonstra é que o superendividamento é principalmente um problema para as famílias de baixa renda. Se esse endividamento diz respeito ao custo dos créditos e da inflação, um dos fatores essenciais para resolver isso é ter uma economia brasileira com juros mais civilizados, porque taxa de juros alta é sinônimo de dívidas caras, sempre", afirma o diretor de Economia e Inovação da CNC, Guilherme Mercês.

Para ele, é importante que sejam adotadas medidas que possibilitem uma redução nos juros e na inflação, com uma nova âncora fiscal para a gestão das contas públicas. "Programas de renegociação de endividamento, como os que estão sendo anunciados (pelo governo federal) são fundamentais e estancam as angústias das pessoas e famílias. Mas em termos estruturais, o que vai resolver esse problema é uma taxa de juros mais baixa,” destaca Mercês.

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