Para analistas, IPCA-15 indica possível deflação no mês

Renan Carreira e Francisco Carlos de Assis
19/07/2013 às 16:06.
Atualizado em 20/11/2021 às 20:12

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) aponta para uma possível deflação do IPCA de julho, puxada pelos itens de Alimentos, em virtude de sazonalidade, e de Transporte, ainda refletindo a revogação do aumento das tarifas de transporte urbano após as manifestações que se espalharam pelo País, de acordo com especialistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Apesar dessa trégua, eles veem a inflação como preocupante, principalmente a parte ligada a Serviços, e avaliam que o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá o ritmo de alta da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 8,5% ao ano.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira que o IPCA-15 desacelerou de 0,38% em junho para 0,07% em julho. O resultado ficou dentro do intervalo das estimativas dos analistas ouvidos pelo AE Projeções, que esperavam uma taxa entre 0,02% e 0,24%, com mediana de 0,09%.

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, disse que o IPCA de julho deve fechar próximo a zero. "Há chance inclusive de deflação do índice." Nessa linha, também estão o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, para quem o índice cairá 0,05%, e a LCA Consultores, que estima o IPCA de julho em -0,01%, embora a empresa já projetasse queda 0,03% antes da divulgação do IPCA-15. A revisão ocorreu porque o indicador registrou 0,07% em julho e a LCA estimava alta de 0,03%.

No entanto, a trégua da inflação não significa que a alta de preços deixou de ser uma preocupação, principalmente a parte ligada a serviços. No âmbito do IPCA-15, a inflação de serviços subiu de 0,68% em junho para 0,69% em julho e passou a acumular em 12 meses alta de 8,57%. Diante desse cenário, os especialistas acreditam que o Copom manterá o ritmo de alta da Selic.

Rosa estima que a taxa básica de juros seja elevada de 8,5% ao ano para 9,25% até o fim de 2013. Ele acredita numa alta de 0,50 ponto porcentual já na próxima reunião do Copom, em 28 de agosto, e de 0,25 ponto porcentual em 9 de outubro. Já Lima prevê que a Selic encerre o ano em 9,5%. "Deve haver uma elevação de 0,50 ponto porcentual na próxima reunião e outra de 0,50 ponto porcentual ou duas de 0,25 ponto porcentual até o fim do ano."

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, disse que a taxa básica de juros não vai ultrapassar 9,5% ao ano porque "o BC está condicionado a apenas fazer a inflação ficar em torno de 6% a 6,5%, próximo ao teto da meta, e não trazê-la para o centro da meta". O centro da meta do BC é 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

Cuidado

Ao referir-se ao IPCA-15, Vale afirmou que é preciso tomar cuidado com indicadores de inflação de meio de ano porque eles costumam ser enganosos. De acordo com ele, os dados de inflação dos meses de junho, julho e agosto são normalmente mais baixos todos os anos, da mesma forma que os de janeiro, fevereiro e março costumam ser mais altos. "Assim como não podemos assegurar que as altas de preços do início de ano vão perdurar, não há como afirmar que as quedas na metade do ano vão ficar."

O professor de economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e membro do Conselho do IBGE, Luiz Roberto Cunha, disse que a notícia trazida pelo indicador divulgado nesta sexta-feira não deixa de ser boa e indicativa de que a inflação acumulada em 12 meses se deslocará de forma lenta e gradual dos atuais 6,7% ao ano para algo em torno de 5,8% no final de 2013.

No entanto, segundo ele, será ainda um nível muito elevado, principalmente quando se sabe que no primeiro mês do próximo ano a inflação deve voltar a subir pressionada pelas altas dos preços de alimentos em decorrência de efeitos climáticos, pagamentos de impostos e gastos com despesas pessoais com férias.
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