(Marcelo Prates/Hoje em Dia)
O anúncio da Parceria Transpacífico (TPP), mega-acordo comercial firmado entre Estados Unidos, Japão e mais dez países, tornará os produtos mineiros menos competitivos no mercado externo. A principal consequência pode ser o enfraquecimento de um dos únicos pontos da economia que não foi ameaçado pela alta do dólar: as exportações.
Só para se ter uma ideia, de janeiro a agosto deste ano, 30% de toda a produção mineira exportada teve como destino os Estados Unidos. Junto com o Japão, o país consome quase 70% do que Minas exporta para os países que compõem o novo bloco, segundo o Exportaminas.
A TPP evidenciou o isolamento do Brasil e, por consequência, de Minas Gerais, no contexto econômico mundial. Com a recessão no mercado interno e a aposta nas exportações como via de retomada do crescimento, a possível perda de espaço na negociação com outros países é o que mais preocupa especialistas e o ramo industrial.
Isso porque a TPP fortalecerá a relação entre países compradores da produção brasileira, tornando a fabricação nacional menos atraente lá fora.
Nichos
Os produtos exportados vão do café ao minério, passando por tubos de ferro, celulose, metais comuns, carne de frango e produtos químicos. Itens de suma importância para a economia do Estado.
Apenas no acumulado de janeiro a agosto, Minas exportou para os EUA US$ 461 milhões em café verde e café torrado, conforme dados da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico.
Os tubos de ferro fundido renderam ao Estado, no mesmo período, o montante de US$ 191 milhões. Um dos poucos produtos com variação positiva no intervalo entre 2013 e 2015.
No mesmo período, a exportação de ferro-ligas para o Japão gerou um montante de US$ 117 milhões. Para o consultor de negócios internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Alexandre Brito, a realidade mineira aponta para a necessidade de mais abertura de mercado.
“Precisamos acelerar nossa integração comercial com países como Colômbia e Peru eliminando tarifas. É fundamental uma forma de entendimento que nos permita estar em outros mercados e isso, obviamente, não implica em negar o Mercosul”, explica.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, afirmou na quarta-feira (14) que o Brasil pode integrar a TPP. No entanto, Monteiro destacou que a adesão não é algo para curto prazo. “Podemos aderir, mas é preciso primeiro construir as bases e harmonizar posicionamento dos países dentro do Mercosul”, disse.
25% dos embarques brasileiros foram para países do bloco
Com o risco de isolamento nos fluxos globais de comércio, o Brasil precisa, conforme especialistas, voltar a colocar a abertura comercial como uma prioridade. Seja com a Europa, a Ásia ou com países sul-americanos que não integram o Mercosul, o esforço para agilizar novas negociações é apontado como uma das grandes urgências estratégicas para a economia em 2016.
Dentro do G-20, que reúne as 20 principais economias, a brasileira é considerada uma das mais fechadas, conforme apontamentos da Câmara de Comércio Mundial.
Só em 2014, 25% das exportações brasileiras – o equivalente a US$ 54 bilhões – foram destinados aos membros do novo acordo do Pacífico, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O acordo ainda precisa ser aprovado pelos países membros mas, na avaliação de especialistas em comércio internacional, o Brasil precisa rever com urgência seu posicionamento frente ao mercado externo.
“A TPP prevê uma série de regulações trabalhistas, ambientais e de patentes que podem prejudicar as exportações de produtos brasileiros. Estar fora de acordos como esse nos tira a possibilidade de influenciar na formulação dessas regras. O Brasil precisa ser mais ousado e proativo nesse contexto”, avalia o vice-presidente executivo da Agência de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Fábio Faria.
As tentativas fracassadas de criar acordos entre o Mercosul e a União Europeia também são criticadas por Faria.
Para ele, o momento é de reavaliar a postura do Brasil dentro do bloco. “Reconhecemos a importância do Mercosul, mas ele não pode ser uma trava para que avancemos nos acordos internacionais”, opina.
China garante que comprará da América Latina e leva certo alívio a excluídos do acordo
As mudanças na dinâmica do mercado internacional já vinham impactando a balança comercial brasileira com a queda do preço de commodities como o minério de ferro. A principal razão foi a redução da demanda chinesa, maior cliente internacional do Brasil.
No entanto, o receio de que a China direcionasse sua demanda para o novo mega-bloco foi amenizado com a declaração do vice-presidente do Banco Popular da China, Yi Gang, após o anúncio da TPP. “A China ainda tem muito tempo de médio e alto crescimento e continuará sendo um comprador muito importante de matérias-primas, que impulsionam o crescimento da América Latina”, afirmou
O coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec/MG, Reginaldo Nogueira, explica que, ainda assim, as apostas da política comercial brasileira tem sido equivocadas.
“O Brasil se concentrou em acordos via Mercosul, tentando aprofundar relações na América do Sul e África, acreditando muito nos acordos multilaterais, que estão travados desde a rodada Doha. Nesse meio tempo, os países começaram a contornar isso com os acordos individuais”, avalia.
Para Nogueira há, agora, um novo precedente para que os acordos comerciais sejam mais ambiciosos, partindo dos pressupostos tratados na TPP.
“Por isso é preciso renegociar a participação do Brasil no Mercusul. O problema foi torná-lo uma união aduaneira e não uma área de livre comércio. Assim, todas as negociações comerciais do Brasil envolvem outros países participantes, o que inviabiliza as transações”, completa.